Do Estado
Andam há décadas a brandir contra o Estado. A defender o corte nas gorduras do Estado. A dizer, escrever e teorizar sobre o «menos Estado e melhor Estado». A reclamar menos pagamentos para o Estado e menor «carga fiscal».
Utilizaram todos os meios de comunicação, todos os artigos de jornal, todo o tempo de televisão, todos os noticiários de rádio para endeusar o mercado e a iniciativa privada.
E não se limitaram à ofensiva política e ideológica, antes impuseram medidas concretas de fragilização do Estado, a partir de posições no poder político e no aparelho do Estado, na exacta medida em que iam instalando os seus conglomerados nos sectores deixados em branco, da saúde à educação, das obras públicas aos transportes, da energia às telecomunicações.
Assim, sentados à mesa do orçamento, foram assegurando, para si e para os seus, avultados negócios e somas, fazendo crescer empresas e grupos económicos, mostrando as vantagens do privado, e como se gerem empresas e se prospera.
Nas novas circunstâncias, perante um problema colectivo, aí estão eles, exactamente os mesmos, a reclamar do Estado apoios e ajudas. Os que anteriormente mostravam riqueza e glamour, hoje estendem a mão aos dinheiros do Estado. O que noutro momento era desdém sobre o papel do Estado, hoje é alarme e reclamação. Onde ontem se exibia arrogância, hoje só se encontra indignação pelos atrasos da resposta do Estado que antes contestavam.
Não se diz aqui que não cabe ao Estado, num momento tão agudo como o que vivemos, encontrar as respostas para os problemas e necessidades do País.
Pelo contrário. Aqui se afirma que, exactamente como em todos os momentos, só uma forte resposta de todos, só um sector público ágil e eficiente, só um Estado ao serviço do povo e do País, e não dos interesses dos grupos monopolistas, dará as respostas que a situação exige.
Mas que não seja para, no fim, ficar tudo na mesma.