PCP apresenta propostas para assegurar a mobilidade de milhões de portugueses
TRANSPORTES Na sessão «Pelo direito à mobilidade – Defender o serviço público de transportes», o Secretário-geral do PCP afirmou que a proposta do Governo de Orçamento do Estado (OE) apresenta «insuficiências» e «limitações».
A política de transportes é estruturante para a vida colectiva
«Ao contrário do propagandeado repetidamente pelo Governo, este não é o melhor dos orçamentos», frisou Jerónimo de Sousa, sábado, 18, no final da iniciativa no Clube Recreativo da Cruz de Pau, no Seixal.
Perante um auditório com mais de uma centena de pessoas – utentes, autarcas, dirigentes sindicais e associativos, entre outros –, o Secretário-geral do PCP referiu que o documento apresentado pelo Executivo PS «está ainda muito longe das opções e medidas que se impõem para responder aos problemas com que o País está confrontado», também na área dos transportes e da mobilidade das populações .
«O alargamento do Passe Social Intermodal com redução tarifária» – importante conquista que os comunistas valorizam e na qual tiveram um papel fundamental – «veio confirmar o que há muito o PCP colocava sobre o sistema de transportes públicos: o preço era e é um factor decisivo para se poder alargar a procura», salientou.
Como exemplo, deu conta dos «mais de 370 mil utentes que passaram a ter acesso» àquele passe intermodal na Península de Setúbal. Só no concelho do Seixal são «mais de 17 mil», adiantou, valorizando o «efectivo impacto no rendimento disponível das famílias que também beneficiam da completa isenção de pagamento das crianças até aos 12 anos».
«Tal redução de preços, em sentido contrário à política que durante anos foi subindo os preços, provocou um aumento da receita bruta do sistema por via do aumento significativo de utentes, pondo a nu a necessidade de alargamento substancial da oferta que é insuficiente, bem como de um conjunto de investimentos estratégicos que estão a ser adiados há largos anos», acusou Jerónimo de Sousa.
PS em sentido contrário
Afirmou, por isso, que a proposta de OE, actualmente em discussão na Assembleia da República, «não corresponde ao avanço no sistema de transportes públicos que é necessário e possível», como se constata com a redução de verbas para o Programa de Apoio à Redução Tarifária (PART).
«Em 2019 o PART só funcionou durante nove meses, pelo que a sua anualização implicaria um aumento de verbas de 33 por cento, o que não acontece. Faltam nove milhões de euros só para essa anualização, valor que o Governo quer empurrar para cima das autarquias», alertou o dirigente comunista.
Em alternativa, o PCP propôs o aumento das verbas para «fazer face a essa anualização» e «responder à integração das ligações inter-regionais no esquema de apoios ao PART, da qual estão hoje excluídas», mas também para «permitir generalizar ao País o alargamento de mobilidade conquistado na Área Metropolitana de Lisboa (AML): um passe, todas as carreiras, todos os operadores, toda a região».
Alargar a oferta é imperioso
Segundo Jerónimo de Sousa, o «atraso mais grave», seja no OE para 2020, seja nas opções que o Governo PS assume, é a «ausência de medidas para alargar a oferta».
«Oferta traduzida em mais autocarros e carreiras a fazerem serviço, navios a navegar e comboios a circular», atestou, reclamando «mais barcos para a Transtejo e a Soflusa», para permitir «retomar a oferta existente antes dos cortes promovidos em 2012 pelo governo PSD/CDS», e «mais dinheiro para a manutenção» das embarcações.
De igual forma, «são necessários mais comboios para o serviço suburbano em toda a AML e para a Linha do Sado», bem como «a reparação urgente dos comboios que se encontram parados».
O «reforço do serviço ferroviário» também precisa de ser realizado na ligação entre Lisboa e Setúbal pela Ponte 25 de Abril, actualmente efectuado pela Fertagus, «com quem este Governo quer prolongar a actual concessão». As necessidades passam ainda por «mais comboios e composições a circular nas horas de ponta, alargando o trajecto entre as Praias do Sado e a Estação do Oriente», acrescentou o Secretário-geral do PCP.
Política de propaganda
Jerónimo de Sousa criticou, por outro lado, a «propaganda» do Governo relativamente ao Programa de Apoio à Densificação e Reforço da Oferta de Transporte Público, com apenas 15 milhões de euros inscritos no OE. «Não é com propaganda que se vão resolver os problemas das populações», criticou, referindo que o PCP «continua a apresentar um conjunto de propostas (ver pág. 18, 19 e 20) de alteração ao OE que, a serem aprovadas, permitiriam começar a resolver de facto o problema da oferta de transportes públicos, particularmente no transporte ferroviário pesado, o mais estratégico e que mais investimentos exige».
Propostas para «acabar com as restrições à contratação de trabalhadores nas empresas públicas, permitindo, por um lado, que a CP tenha o pessoal necessário para realizar a manutenção e reparação atempada da sua frota, inclusive da que está encostada, e para que no conjunto das empresas se acabe com as supressões operacionais e com as estações desertas», continuou o Secretário-geral do PCP, sem esquecer o lançamento, desde já, dos «concursos de aquisição de comboios para as linhas suburbanas e para o longo curso, articulando-as com a recuperação pelo País da capacidade própria na construção ferroviária».
Investimentos nas mãos do grande capital
O Secretário-geral do PCP contestou, igualmente, a tese de que não existem verbas para enfrentar investimentos estratégicos. «Esses recursos existem, mas estão a ser capturados pelos interesses do grande capital», acusou, dando como exemplo a Metro Sul do Tejo, empresa do Grupo Barraqueiro que «recebeu largas dezenas de milhões de euros», a Atlantic-ferries, do grupo Sonae, que faz a ligação fluvial entre Setúbal e Troia, «cobrando uma exorbitância pelos bilhetes e recusando-se ao mesmo tempo a integrar o Passe Social Intermodal, e a Fertagus, do grupo Barraqueiro, que «opera numa linha pública com comboios pagos pelo Estado, recebendo milhões de euros pela concessão e praticando preços bastante acima dos que pratica a CP».
«É público que o Governo tomou a iniciativa no final do ano (de 2019) de renovar por mais quatro anos a concessão da Fertagus. Da nossa parte não desistiremos de colocar um ponto final neste esbulho que está a ser feito aos recursos públicos», assegurou Jerónimo de Sousa.
Estratégia nacional
As propostas do PCP estendem-se à necessidade de «pôr fim às parcerias público-privadas (PPP), resgatando essas concessões, defendendo o interesse nacional». «Só nos próximos cinco anos, as PPP rodoviárias irão receber cerca de seis mil milhões de euros», destacou o Secretário-geral do PCP.
Entre as prioridades do Partido está também a construção de uma terceira travessia sobre o Tejo em modo rodo-ferroviário; a eliminação das portagens, seja nas ex-scut, seja nos percursos dentro das áreas metropolitanas; a construção faseada de um novo aeroporto internacional no Campo de Tiro de Alcochete, em vez da opção Montijo.
Dar voz à luta dos utentes e dos trabalhadores
Durante a sessão, muitos foram os problemas denunciados. Um dos mais abordados foi, obviamente, a falta de transportes públicos e a qualidade do serviço que prestam.
Os intervenientes também criticaram o facto de a A33 ser portajada, situação que só acontece no concelho do Seixal, de maioria CDU. Os utentes sentem-se ainda discriminados pelo Governo em relação a outros municípios, de outras cores políticas (do PS), relativamente ao pagamento nos parques de estacionamento que dão acesso aos transportes. Está entretanto a circular um abaixo-assinado, que também pode ser subscrito em https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=CUTSeixal, que reivindica um conjunto de medidas que promovam a gratuitidade dos parques de estacionamento junto das estações da Fertagus e do terminal fluvial da Transtejo.
Como positivo, foi referida a criação da Carris Metropolitana, que vai reunir as empresas de transporte público rodoviário dos 18 concelhos da AML.
«Os transportes públicos são estratégicos para o País, pelo papel que assumem no funcionamento da economia e na mobilidade das populações».
Eduardo Vieira, do Comité Central e da Direcção da Organização Regional de Setúbal (DORS) do PCP
«A gestão dos transportes deve ficar na região. É necessária a regionalização, com competências atribuídas, com financiamento garantido e com órgãos eleitos de forma democrática». Joaquim Santos, presidente da Câmara Municipal do Seixal e da DORS do PCP
«São várias as vezes que chego atrasada à aulas, a actividades desportivas ou culturais devido aos atrasos dos autocarros, por não haver espaço ou simplesmente por não passarem». Estudante do Ensino Secundário
«A comparticipação financeira das autarquias para o PART é muito elevada. O OE deve suportar os custos dos transportes públicos». Apolisário
«Quando se anuncia um grande investimento para a ferrovia, não podemos esquecer que foi um governo do PS que fechou a Sorefame». João Pedro Ricardo, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário
«A TST, na sua linha de chantagem e do não cumprimento do serviço público, cortou carreiras e alterou horários. Os utentes dos concelhos afectados devem tomar uma posição conjunta e lutar contra a degradação do serviço».
Luísa Ramos, da Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul
«As camionetas não podem partir três minutos antes dos barcos chegarem. Tem que haver articulação entre os operadores». AntónioFreitas, da Comissão de Utentes dos Transportes do Seixal
«Hoje é impossível chegar a Bragança de comboio porque a estação foi fechada». Tiago Varela
«Temos que nos bater para que a 2.ª fase do Metro Sul do Tejo seja concluída, assim como a Regional 10». Manuel Araújo, presidente da Junta de Freguesia de Amora
«Hoje estamos a sofrer as consequências das privatizações no sector dos transportes». Américo Costa, eleito da CDU na Assembleia Municipal do Seixal
«Do Miratejo até aqui (Cruz de Pau), uma distância de pouco mais de três quilómetros, demorei uma hora de autocarro (TST)». Hernâni Magalhães
Mais e melhor para Lisboa
Esclarecer e mobilizar os utentes para a necessidade de aumentar e requalificar a oferta de transportes públicos na Área Metropolitana de Lisboa (AML), designadamente pela inclusão das verbas adequadas no Orçamento do Estado para 2020 (OE), é o objectivo da campanha lançada pela Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP (DORL).
Com materiais diferenciados para as linhas ferroviárias suburbanas da Azambuja, Sintra e Cascais e para a linha do Metropolitano de Lisboa, bem como com um cartaz e um postal que, depois de subscrito massivamente, será remetido ao Governo, a campanha «valoriza o avanço, fruto da luta dos utentes e da iniciativa do PCP, que representou o alargamento do passe social intermodal e a redução tarifária».
Contudo, não se deixa de criticar a não orçamentação das verbas necessárias à concretização de mais e melhores transportes na AML, particularmente «a continuação do desinvestimento na ferrovia», isto «apesar da intensa propaganda do Governo, que substitui promessas por novas promessas».
A DORL do PCP sublinha, por isso, que «a proposta de OE apresentada pelo Governo PS, em discussão na Assembleia da República (AR), não corresponde ao avanço no sistema de transportes públicos que é necessário e possível». E nesse sentido, reclama verbas para o Programa de Apoio à Redução Tarifária (PART) que garantam a subsidiação por um ano (em 2019 só durou 9 meses), e a integração das ligações inter-regionais no esquema de apoios, o que, a não suceder, prejudica utentes e autarquias limítrofes às áreas metropolitanas.
O Partido exige e já propôs na AR, igualmente, mais investimento no transporte ferroviário pesado, com particular urgência no caso da AML, visando a modernização das linhas da Azambuja, Cascais e Oeste, a aquisição de composições e a contratação de pessoal para a manutenção e reparação da frota.
«Existem as verbas para enfrentar estes investimentos estratégicos», mas elas estão «a ser desviadas para apoiar bancos falidos, garantir isenções a especuladores bolsistas e pagar juros a agiotas», acusa a DORL, que a este respeito dá vários exemplos.
Mau serviço no Porto
O que melhor serve os interesses da região é consagrar a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) «como operador interno, definindo uma estratégia que confirmasse, no imediato, aquela empresa pública nos 6 concelhos onde já opera», e, posteriormente, tomar «medidas para um progressivo alargamento a toda a Área Metropolitana do Porto».
A posição da Direcção da Organização Regional do Porto do PCP foi divulgada depois de o Conselho Metropolitano do Porto (CMP) ter anunciado que está a «ultimar os critérios para o lançamento do concurso público para a escolha de operadores rodoviários», confirmando que «a opção das várias câmaras municipais da AMP consiste em remeter a STCP ao concelho do Porto (com algumas ligações aos concelhos limítrofes) e entregar a operação dos restantes concelhos aos privados, mas com critérios de serviço público tão insuficientes que não garantirão o mínimo de qualidade e fiabilidade».
A DORP do PCP alerta, por isso, que «a região não precisa de um concurso com serviços mínimos, mas de um contrato de transportes que melhore as redes, os horários e as frequências de forma a servir as populações nas suas necessidades de todos os dias».