«Fora de controlo»

Carlos Lopes Pereira

Mais de 70 soldados do Níger perderam a vida, a 10 deste mês, num ataque contra o quartel de Inates, perto da fronteira maliana, perpetrado por centenas de jihadistas fortemente armados.

Dias antes, no Mali, 13 militares da França morreram numa acção contra grupos insurgentes, elevando para 44 o número de baixas francesas da operação Barkhane desde 2013.

Nos últimos meses, outros ataques sangrentos atingiram Mali, Níger e Burkina Faso, prova da crescente actividade dos jihadistas.

No plano político, a par de protestos populares contra a guerra e a presença de tropas estrangeiras nos países da região, os presidentes dos estados membros do G5 Sahel reuniram-se, a 15, em Niamey, para discutir a questão securitária.

Participaram Mahamadou Issoufou (Níger), Ibrahim Boubacar Keita (Mali), Marc Kaboré (Burkina Faso), Idriss Déby (Chade) e Ould Ghazouani (Mauritânia).

Os chefes de Estado reiteraram a vontade de tudo fazer para melhorar «a coordenação entre a sua força militar conjunta, as forças nacionais e as forças aliadas internacionais». Lançaram um apelo aos países africanos para «um reforço da cooperação entre os serviços de segurança e de informações na luta contra o terrorismo e a criminalidade transfronteiriça». Exortaram a comunidade internacional a «reforçar o seu apoio» à luta contra «a ameaça terrorista». E renovaram o pedido às Nações Unidas para renovar os mandatos da força conjunta do G5 Sahel e da Minusma, a missão militar da ONU no Mali.

Segundo o presidente nigerino, para «combater o terrorismo» os estados sahelianos «precisam não de menos aliados mas de mais aliados». E saudou a projectada operação Tacouba, iniciativa de Paris, que reunirá forças especiais de países europeus para «auxiliar» o exército maliano.

As declarações foram uma resposta ao presidente Emmanuel Macron, que tinha pedido aos dirigentes sahelianos para «clarificar» a posição face à presença de tropas francesas nos seus países e «assumir» que elas se encontram ali a pedido dos africanos e não com «intenções neocoloniais».

Apesar do impressionante dispositivo militar nos países do Sahel – há as tropas nacionais, a força conjunta do G5, os 4500 efectivos da Barkhane, os 16 mil soldados e polícias da Minusma, as forças especiais dos EUA, os 600 «conselheiros» da União Europeia, as bases francesas e estado-unidenses no Níger – a situação regional degrada-se. A paz no Sahel parece cada vez mais longe, dizem especialistas citados pela France Press e Reuters.

A situação «vai muito mal e continua a piorar», opina Michael Shurkin, antigo analista da CIA, hoje na Rand Corporation, um centro de análise ligado ao Pentágono. Entrevistado pela AFP em Washington, critica os «soldados locais», sem competências e equipamentos, e diz que «as tropas francesas não são numerosas».

Os soldados nacionais do G5 são cada vez menos populares, pelas suas detenções arbitrárias e execuções sumárias. «De dia há medo do exército, de noite há receio dos jihadistas», resume um aldeão.

«Não é possível resolver o problema matando toda a gente», conclui um anónimo responsável do Pentágono, para quem, no Sahel, «a situação está fora de controlo».

Guerra, pobreza, exploração, bloqueio do desenvolvimento – tal é o resultado das intervenções militares e ingerências no Sahel, da França neocolonialista e aliados, mais interessados no urânio e outras riquezas do Mali e Níger do que preocupados com a sorte dos povos da região.




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