Bem prega Frei Tomás

João Frazão

«Não vivemos numa república das bananas. Se há falta de pessoal, têm de fazer uma coisa simples, que é contratar».

Lê-se esta declaração e pensa-se que se está perante alguém indignado com a falta de trabalhadores nos serviços públicos portugueses depauperados por décadas de política de direita e se dirige ao Governo reclamando pela contratação de médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes para o serviço nacional de saúde, ou de professores, e assistentes para as escolas.

Alguém que, depois de anos a ouvir a conversa da treta da necessidade de cortar nas gorduras do Estado, terá agora percebido que isso significou a degradação do apoio dos serviços da Segurança Social ou do Ministério da Agricultura a populações envelhecidas e carecidas de ajuda.

Ou que elas representam um grito de exigência de colocação dos agentes das forças de segurança em falta um pouco por todo o país, para garantir aos que hoje estão ao serviço o cumprimento dos seus direitos e às populações a tranquilidade que merecem.

Eventualmente alguém preocupado com os direitos dos trabalhadores de um qualquer sector, na certeza de que a sua escassez leva, invariavelmente, a ritmos de trabalho mais intensos, a atropelos aos direitos e, em algumas profissões, mesmo a acidentes de trabalho.

Lê-se melhor as notícias e percebe-se que, afinal, é só aquela voz do tipo que ao ver passar a injustiça na sua frente grita «agarrem-me se não eu mato-o», enquanto se enfia mais um pouco no sofá.

Então não é que quem fez esta afirmação foi um membro do actual Governo, dizendo que «é uma vergonha que um camião esteja seis ou sete horas à espera de fazer uma descarga», até porque há empresas «com grande poder económico» que usam isso «para ter uma relação vantajosa» face ao seu fornecedor?

Ou seja, nem a preocupação principal parece ser com os direitos dos trabalhadores (pelo menos o Governante não o consegue verbalizar), nem aquilo que apregoa se parece aplicar às responsabilidades que lhe estão atribuídas. Se faltam trabalhadores nos transportes públicos, senhor Ministro, é simples, contrate-os!

Bem prega Frei Tomás.




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