«Amigos da onça»

Manuel Rodrigues

Segundo a Lusa, o pri­meiro-mi­nistro do go­verno do PS, An­tónio Costa, disse es­perar ter uma re­lação «o mais pró­xima pos­sível e de grande co­la­bo­ração mútua» com Ur­sula von der Leyen, dias antes da vo­tação no Par­la­mento Eu­ropeu sobre a com­po­sição da Co­missão Eu­ro­peia.

«É es­sen­cial na Eu­ropa – acres­centou – todos tra­ba­lharmos o mais pro­xi­ma­mente pos­sível. É evi­dente que as re­la­ções pes­soais são pes­soais e in­trans­mis­sí­veis, e a re­lação que tenho tido a opor­tu­ni­dade de ter com o pre­si­dente Juncker foi muito es­pe­cial, por­ven­tura também muito fruto das cir­cuns­tân­cias que, fe­liz­mente, não se re­petem», disse, re­fe­rindo-se ao pro­cesso de san­ções por dé­fice ex­ces­sivo que pairou sobre Por­tugal em 2015.

Co­nhe­cidas que são, nesta ma­téria, as po­si­ções do PSD e CDS cujo go­verno, entre 2011 e 2015, levou esta sub­missão ao nível de total ca­pi­tu­lação pe­rante as im­po­si­ções da troika (UE, BCE e FMI), não é di­fícil prever o que vão ser as re­la­ções de Por­tugal com a nova pre­si­dente da Co­missão Eu­ro­peia, es­co­lhida ex­clu­si­va­mente para de­fender os in­te­resses do ca­pital mo­no­po­lista.

De facto, o pro­blema não está na pro­xi­mi­dade da re­lação de tra­balho com Ur­sula von der Leyen ou Juncker. Como não es­teve na es­colha de um pre­si­dente por­tu­guês (Durão Bar­roso, ex-pri­meiro mi­nistro de um go­verno PSD/​CDS, entre 2002 e 2005). O pro­blema está na ne­ces­si­dade de afirmar e de­fender a so­be­rania na­ci­onal; está em li­bertar Por­tugal da sub­missão ao euro e às im­po­si­ções da União Eu­ro­peia; está em li­bertar Por­tugal do do­mínio do grande ca­pital; está na de­fesa dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País no quadro da luta por uma outra Eu­ropa de co­o­pe­ração entre es­tados so­be­ranos e iguais em di­reitos. Esta é a re­lação que in­te­ressa ao povo por­tu­guês. Como de­fende o PCP.

De resto, o povo por­tu­guês tem uma ex­pressão que ca­rac­te­riza bem a na­tu­reza de classe de amigos como Ur­sula, Juncker ou Durão: «amigos da onça».




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