Sem máscara

Jorge Cadima

O im­pe­ri­a­lismo dá co­ber­tura ao fas­cismo e ao gol­pismo

As hi­pó­critas más­caras ‘de­mo­crá­ti­cas’ do im­pe­ri­a­lismo dão lugar ao apa­dri­nha­mento des­ca­rado do fas­cismo, da vi­o­lência e do gol­pismo. Os EUA rasgam im­pu­ne­mente os tra­tados que as­si­naram: da Pa­les­tina ao con­trolo de armas, do co­mércio ao clima e ao Irão. Os seus golpes de Es­tado e sub­ver­sões en­volvem cada vez mais o roubo des­ca­rado dos bens das ví­timas (como à Ve­ne­zuela). Des­mas­ca­rando anos de pro­pa­ganda sobre ‘di­reitos hu­ma­nos’ e ‘di­ta­do­res’, Trump anuncia que vai manter tropas na Síria para ocupar os poços pe­tro­lí­feros «porque vamos ficar com o pe­tróleo. Eu gosto de pe­tróleo. Vamos ficar com o pe­tróleo» (SputnikNews, 2.11.19). São os ‘va­lores oci­den­tais’ em todo o seu es­plendor.

No seu es­tilo, Trump dis­para em todas as di­rec­ções, in­cluindo contra po­tên­cias da UE, por fa­zerem acordos co­mer­ciais que não be­ne­fi­ciam os EUA e por não darem mais di­nheiro para as guerras de que também be­ne­fi­ciam. A UE geme, mas alinha. Os seus go­vernos (in­cluindo o do PS em Por­tugal) co­la­boram nas ope­ra­ções gol­pistas contra Ve­ne­zuela e Bo­lívia. Ma­cron, em en­tre­vista à re­vista Eco­no­mist (1.11.19) la­menta a «morte ce­re­bral» da NATO. Mas é uma queixa de ca­pataz: os EUA re­ti­raram al­guns sol­dados da Síria sem aviso prévio à França, que também tinha ile­gal­mente tropas na sua an­tiga co­lónia e ficou des­calça. Qual a al­ter­na­tiva de Ma­cron? En­quanto não está ocu­pado a ar­rancar olhos a ma­ni­fes­tantes, «o di­ri­gente francês apela à Eu­ropa para co­meçar a pensar em si pró­pria como uma ‘po­tência geo-po­lí­tica’» (BBC, 7.11.19), re­for­çando a sua força mi­litar. An­te­ci­pando a Ci­meira da NATO em Lon­dres, o ‘tra­ba­lhista’ no­ru­e­guês Stol­ten­berg, Se­cre­tário-Geral da NATO, está or­gu­lhoso por mi­li­ta­rizar o Es­paço, se­guindo as de­ci­sões anun­ci­adas pelos EUA em Fe­ve­reiro.

O go­verno PS não de­nuncia o golpe de Es­tado na Bo­lívia, mas pro­clama a sua ‘fi­de­li­dade atlân­tica’. No jornal Sol (19.11.19) o Mi­nistro da De­fesa Cra­vinho or­gulha-se da «tra­je­tória de su­cesso [da NATO], be­né­fica para Por­tugal na qua­li­dade de fun­dador e aliado ativo». Tra­jec­tória que co­meçou na di­ta­dura fas­cista de Sa­lazar, que a NATO ajudou be­ne­fi­ca­mente a sus­tentar, jun­ta­mente com a sua guerra co­lo­nial. Se­guindo as exor­ta­ções de Trump, Cra­vinho anuncia que «Por­tugal, como os ou­tros Ali­ados, irá au­mentar a des­pesa mi­litar [com …] um au­mento muito sig­ni­fi­ca­tivo de in­ves­ti­mento em equi­pa­mento ao longo dos pró­ximos anos». Quem disse que não há di­nheiro? A saúde e a edu­cação podem es­perar. Porque «de­pois de uma crise eco­nó­mica e fi­nan­ceira muito aguda, era pre­ciso re­forçar o in­ves­ti­mento na se­gu­rança e de­fesa na Eu­ropa». Mesmo se «a União Eu­ro­peia, no seu con­junto, tem já a se­gunda maior des­pesa em de­fesa do mundo», logo após os EUA.

Há dias, na 3.ª Co­missão da ONU, 121 países apro­varam a moção «Com­ba­tendo a glo­ri­fi­cação do Na­zismo, do neo-na­zismo e ou­tras prá­ticas que con­tri­buem para ali­mentar as formas ac­tuais de ra­cismo, dis­cri­mi­nação ra­cial, xe­no­fobia e in­to­le­rância re­la­ci­o­nada». Os ‘de­mo­crá­ti­cos’ EUA e Ucrânia foram os únicos dois países a votar contra. Os países da UE (in­cluindo Por­tugal) abs­ti­veram-se. Em países bál­ticos da UE e na Ucrânia há des­files anuais e es­tá­tuas de co­me­mo­ração de co­la­bo­ra­ci­o­nistas que com­ba­teram nas fi­leiras das Waffen-SS. Há apenas dois meses o Par­la­mento Eu­ropeu aprovou uma in­fame re­so­lução con­de­nando ‘o na­zismo e o co­mu­nismo’. Está visto que só acre­ditam na se­gunda parte da con­de­nação.




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