No Chile, depois da greve geral, continuam protestos populares
UNIDADE A mobilização de dezenas de milhares de pessoas, em todo o Chile, convocadas pela Mesa de Unidade Social, foi considerada um êxito por representantes de organizações que integram a plataforma.
Chilenos continuam a exigir nas ruas fim das políticas neoliberais
Bárbara Figueroa, presidente da Central Unitária de Trabalhadores (CUT), assegurou que a realização pacífica de manifestações, na terça-feira, 26, calou os que quiseram identificar o movimento social com sectores «violentos». Num encontro com a imprensa, em Santiago do Chile, enfatizou que as manifestações não só foram massivas mas também colocaram no centro das atenções as exigências principais da população, que o governo tem de ouvir mas que não tiveram resposta até agora.
Alexandra Espinosa, porta-voz do movimento Não Mais AFP [fundos de pensões], assinalou por sua parte que a Unidade Social está decidida a continuar a impulsionar as grandes transformações de que o Chile necessita e destacou o amplo movimento que se aglutinou em torno desta iniciativa. Considerou que o governo se mostra cada vez mais surdo e incompetente para resolver a crise social, cuja saída deve ser mais democracia e participação, para o que é necessário avançar para uma verdadeira assembleia constituinte.
No mesmo sentido pronunciou-se Gabriela Flores, presidente da Confederação Nacional de Saúde Municipal, que apelou à continuação das mobilizações populares, garantindo que o povo quer justiça social, após 30 anos de mentiras de governos que diziam representar os trabalhadores e lhes viraram as costas para favorecer os mais ricos.
Exigências populares
Dezenas de milhares de pessoas marcharam na terça-feira, 26, em cidades de todo o Chile, no dia da greve geral convocada pela Mesa de Unidade Social para exigir mudanças de fundo visando erradicar o modelo neoliberal no país.
Na capital, milhares de pessoas juntaram-se na Praça da Dignidade, de onde desfilaram pacificamente pela Alameda, passando defronte do palácio presidencial de La Moneda, totalmente cercado por altas barreiras. A manifestação terminou com um comício na Praça dos Heróis, onde dirigentes de organizações de trabalhadores e de sectores profissionais reclamaram o cumprimento imediato por parte do governo de um conjunto de reivindicações, para combater as profundas desigualdades no Chile.
Os oradores asseguraram que a única maneira de construir a paz é com justiça e com reparação às vítimas da repressão, a qual – foi denunciado – o presidente Piñera pretende aumentar com leis destinadas a reforçar os corpos policiais e a levar os militares para as ruas.
Entre as reivindicações populares apresentadas figura o aumento do salário mínimo para 500 mil pesos líquidos (626 dólares) e das pensões para esse nível, como forma de evitar o endividamento sistemático de que sofre a maioria das famílias chilenas.
Também foram reclamados sistemas públicos de saúde e educação de qualidade e a eliminação das empresas seguradoras de fundos de pensões e a sua substituição por um sistema de pensões verdadeiramente solidário, além do controlo estatal sobre serviços básicos como água, electricidade e transportes.
Uma das palavras de ordem mais repetidas ao longo do desfile foi a exigência de renúncia do presidente Piñera, a quem os participantes acusaram de ser o responsável máximo pelas violações de direitos humanos cometidas pelas forças policiais contra os manifestantes desde o início dos protestos populares, a 18 de Outubro.