Solidariedade e primeira vitória contra fecho da «Galiza»

UNIDADE Os trabalhadores da Cervejaria «Galiza», no Porto, impediram o encerramento ilegal do estabelecimento, estão a garantir o seu funcionamento e já puderam receber parte do salário em dívida.

O comportamento patronal deve ser investigado pelas autoridades

A situação grave do conhecido restaurante, aberto desde 1972 no número 55 da Rua do Campo Alegre, ganhou destaque público depois de, organizados no Sindicato da Hotelaria do Norte, os trabalhadores terem feito greve, com adesão total, no dia 9, sábado.

Ao anunciar a luta, na véspera, o sindicato da Fesaht/CGTP-IN relatou que a gerência da «Galiza» deixou o restaurante «ao completo abandono» desde há cerca de quatro anos e «nunca cumpriu» o plano de recuperação a que recorreu. Alterações «para pior» nos produtos e serviços provocaram o afastamento de clientes importantes.

Os delegados sindicais alertaram para os perigosos efeitos de tais medidas, mas a gerência «descapitalizou a sociedade e acumulou dívidas».

Nos primeiros dias deste mês, os trabalhadores tinham «congelamento salarial há dez anos consecutivos» e «o salário mensal às prestações», estando por pagar o subsídio de Natal de 2018 – o que motivou o recurso à greve.

Na segunda-feira, dia de descanso, os trabalhadores impediram que a gerência retirasse o recheio da cervejaria e o encerramento ilegal que daí resultaria. «Todo o recheio estava pronto para, pela calada da noite, ser retirado e levado para uma quinta de um misterioso investidor que nunca deu a cara, mas que já geria indirectamente o estabelecimento há muito tempo», descreveu o sindicato, assinalando que, «inclusive, já havia um comunicado, assinado pela gerência, a dizer que o estabelecimento estava encerrado».

Foram os trabalhadores que chamaram a PSP, mas a gerência ainda tentou que a Polícia expulsasse do restaurante aqueles que estava a impedir a ilegalidade e que reagiram com «firmeza e determinação».

Nessa noite, ao fim de quatro horas de negociação entre o sindicato e a gerência, houve acordo para que a «Galiza» continuasse a funcionar, gerida temporariamente por uma comissão de três trabalhadores. O sindicato considerou que esta solução «representa uma grande vitória para os trabalhadores, pois mantém viva a luta pela viabilização da empresa e a manutenção dos postos de trabalho».

A cervejaria abriu na terça-feira, dia 12.

No dia 14, quando esteve na «Galiza» para se reunir com os trabalhadores, o Secretário-geral da CGTP-IN defendeu que o Ministério Público e a Autoridade para as Condições do Trabalho devem investigar a actuação da gerência e um eventual «crime económico e social» para favorecer «interesses obscuros». Arménio Carlos enfatizou a importância de a população da cidade manifestar solidariedade para com os trabalhadores, indo almoçar, jantar ou lanchar à «Galiza».

Na manhã de sábado, o Sindicato da Hotelaria do Norte deu nota de que a cervejaria teve «um aumento muito significativo de clientes desde que foi reaberta por força e acção determinada dos trabalhadores». Assinalando que ali estiveram «também figuras nacionais da cultura e da política», o sindicato conclui que «os portuenses demonstram, assim, que estão solidários com a luta dos trabalhadores».

Devido aos «bons resultados», fora já possível «pagar aos 31 trabalhadores uma parte do salário de Outubro».

Anteontem, no Ministério do Trabalho, a falta de respostas dos advogados da gerência levou à marcação de uma nova reunião com o sindicato para segunda-feira, dia 25. Até lá, a «Galiza» vai continuar aberta.

PCP solidário

A reiterar a solidariedade do PCP para com os trabalhadores da «Galiza», ali estiveram, sábado à tarde, Diana Ferreira, deputada, e Jaime Toga, da Comissão Política do Comité Central do Partido.




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