Pilhar petróleo

Luís Carapinha

Os EUA nunca con­cre­ti­zaram a anun­ciada re­ti­rada das tropas da Síria

Com a maior des­fa­çatez, como se de al­guém inim­pu­tável se tra­tasse, o pre­si­dente norte-ame­ri­cano afirmou gostar de pe­tróleo e por isso não vai largar os poços pe­tro­lí­feros da Síria a leste do rio Eu­frates, sob ocu­pação mi­litar dos EUA. É o pró­prio New York Times a es­cla­recer as ra­zões (da atroz pi­ra­taria): o ob­jec­tivo real da Ad­mi­nis­tração Trump não é [como é dito] evitar o acesso do EI (o de­sig­nado Es­tado Is­lâ­mico) ao pe­tróleo [sírio], mas sim barrar o acesso [do go­verno le­gí­timo] de Assad e im­pedi-lo da pos­si­bi­li­dade de re­cons­truir o país. Há cerca de um ano, Trump anun­ciou a re­ti­rada das tropas, mas esta nunca foi con­cre­ti­zada. Nas úl­timas se­manas vá­rias uni­dades eva­cu­adas à pressa para o Iraque de Manbij e da secção nor­deste da fron­teira sírio-turca, ce­dendo às exi­gên­cias e braço de ferro com Er­dogan em torno das po­si­ções curdas na re­gião, vol­taram quase de ime­diato a re­en­trar na Síria para re­forçar po­si­ções na zona onde se si­tuam os prin­ci­pais poços de pe­tróleo. Os EUA mantêm ainda pre­sença mi­litar em Al-Tanf, no sul da Síria,na fron­teira tri­par­tida com a Jor­dânia e o Iraque. O local serve de vi­veiro para os grupos ter­ro­ristas lan­çados no de­serto na rec­ta­guarda das po­si­ções do Exér­cito de Da­masco, lem­brando que estes – dos afi­li­ados na Al-Qaeda ao IS – são uma cri­ação da CIA, por mais que a Casa Branca apregoe a nova li­qui­dação de al-Bagh­dadi.

Será pois pros­se­guida a ta­refa de ex­plo­ração ilegal e con­tra­bando do pe­tróleo sírio que serve também para fi­nan­ciar as mi­lí­cias mai­o­ri­ta­ri­a­mente curdas do SDF e manter as ala­vancas da ins­tru­men­ta­li­zação da questão curda pelos EUA, li­mi­tando os danos doseu re­cente sa­cri­fício face aos im­pe­ra­tivos da re­lação cada vez mais di­fícil com An­cara e, no mesmo passo, tentando so­cavar o diá­logo das forças curdas com Da­masco re­ac­ti­vado com a ac­tual in­cursão turca. Em­prei­tada que se en­quadra na es­tra­tégia de Washington de di­visão e frag­men­tação da re­gião (o ‘Grande Médio Ori­ente’) e que goza da fer­ve­rosa cum­pli­ci­dade de Is­rael. Mas que é vista com enorme des­con­fi­ança pela di­recção da Tur­quia, ainda mais de­pois da ten­ta­tiva de golpe de es­tado em 2016contra Er­dogan, o in­con­tor­nável aliado da NATO que acolhe a base de In­cirlik, onde os EUA têm armas nu­cle­ares.

Claro que a pre­sença mi­litar na Síria dos EUA e da ‘co­li­gação in­ter­na­ci­o­nal’ sob os seus aus­pí­cios é ilegal e cri­mi­nosa. Afronta a Carta da ONU e o di­reito in­ter­na­ci­onal. Sendo per­versa a na­tu­ra­li­zação pelos média do­mi­nantesdanor­ma­li­dade’ da agressão e pi­lhagem da Síria às mãos dos EUA.

Con­tudo, a chan­tagem com o roubo do pe­tróleo e ain­sis­tência na pro­jecção de forças e ocu­pação de parte do ter­ri­tório da Síria são in­ca­pazes de es­conder o sa­li­ente revés dos agres­sores. Os EUA e de­mais ins­ti­ga­dores desta guerra cruel (UE, Is­rael, di­ta­duras do Golfo e Tur­quia, esta man­tendo uma po­sição dúbia ao in­te­grar o pro­cesso ne­go­cial de As­tana com a Rússia e Irão) não al­can­çaram até ao mo­mento os seus ob­jec­tivos es­tra­té­gicos. À en­trada do 9.º ano do con­flito, o go­verno so­be­rano, apoiado no ter­reno por Mos­covo e Te­erão, não só re­siste em Da­masco, como con­tinua pau­la­ti­na­mente a res­ta­be­lecer o con­trolo ter­ri­to­rial do país, con­tra­ri­ando o ce­nário de es­fa­ce­la­mento líbio. O povo sírio paga um preço ele­va­dís­simo para de­fender o di­reito não ne­go­ciável ao fu­turo da sua pá­tria em mais uma guerra a pesar no ca­dastro im­pe­ri­a­lista.




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