Diferenças, demagogia e muito preconceito...

Manuel Rodrigues

Em recente entrevista, Catarina Martins (CM) do BE valorizou o que designou por convergência com o PCP nos últimos quatro anos, para, logo de seguida, enfatizar as diferenças e divergências, afirmando não se esquecer que o PCP votou contra a lei da paridade. Ora, o que CM não disse – a sua intenção era «colar» o PCP a uma posição conservadora – é que para o PCP a participação social e política das mulheres é uma condição de progresso e democratização da sociedade que não é assegurada com a imposição de quotas obrigatórias nas listas eleitorais para os centros de decisão política.

A imposição desta lei visou criar a ilusão de que o estabelecimento de uma quota obrigatória de mulheres e homens correspondia ao único modelo a adoptar para reduzir o défice de participação das mulheres, omitindo que o CP apresentou soluções alternativas e não é o sexo que determina as posições políticas, antes as opções de classe.

Mas as diferenças entre PCP e BE sobre direitos das mulheres não se ficam por aqui. Três exemplos: enquanto BE defende a legalização da prostituição, ou seja, a regulamentação do «trabalho sexual», o PCP assume a prostituição como uma grave forma de exploração e violência, um atentado à dignidade das mulheres prostituídas e de todas as mulheres; enquanto o BE considerou demagógica a proposta de fixação do SMN em 600 euros em Janeiro de 2016 e assinou um compromisso com o PS para o seu aumento até aos 600 euros ao longo da legislatura e agora o seu aumento para os 650 euros, o PCP defendeu os 600 euros a partir de Janeiro de 2016 e agora o seu aumento para 850 euros; o BE assumiu com o PS o objectivo do mero descongelamento do valor das pensões, por via da aplicação da legislação em vigor, enquanto o PCP conseguiu o seu aumento extraordinário, que se traduziu em importantes avanços na reposição de rendimentos confiscados aos reformados e pensionistas, na sua maioria mulheres com baixas pensões.

Como se vê, são diferenças de monta que, vá-se lá saber porquê, CM não referiu. Será que teme que as mulheres percebam que para avançar nos seus direitos – na lei e na vida – do que menos precisam é de demagogia e populismo?...

Do que mais precisam é, de facto, de lutar pelos seus direitos e votar na CDU.




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