O «centro de documentação»
A aprovação na AR de um voto apresentado pelo PCP repudiando a criação de um «museu Salazar» foi acompanhada de muita coisa com interesse, começando pela própria votação e passando pelas respectivas declarações de voto. O CDS atirou-se ao PCP e afirmou nada ter a ver com a iniciativa. O PSD, angelical, considera que «o objectivo primeiro da sua criação prende-se com a defesa e promoção dos territórios de baixa densidade». O PS votou a favor mas não fecha a porta, desde que existam «certezas absolutas quanto à qualidade e seriedade do trabalho historiográfico».
E essa é uma curiosa linha de argumentação, vinda de vários lados: a de que se trataria de um «centro de documentação» sério e academicamente avalizado, e que quem se opõe à sua criação é adepto da rasura histórica e da ignorância. Um editorial no Público (12.09.2019) dá como garantido que «não será uma hagiografia ao ditador» e que o combate contra o salazarismo se faz «com o conhecimento da História», para o qual o «museu» contribuiria.
Se fosse esse o objectivo de tal «museu», decerto que Santa Comba Dão não seria o local para o criar. A história do salazarismo não se faz seguramente na base da exposição das botas de elástico do personagem ou de outros aspectos pessoais ou privados. Faz-se na base do conhecimento exacto, documentado e objectivo da implacável guerra de classe que durante 48 anos travou contra o povo e o País, do dramático rasto de pobreza, exploração e atraso legado, da brutal repressão e do medo instalado. E, uma vez que já lá vai, também do humor da sua extrema mediocridade. Como modesto contributo para o «museu», aqui ficam versos de um hino da Legião Portuguesa: Marchem unidos/ e com todo o heroísmo/ Tralará lálá tralará lálá/ Tralará lálá tralará/ Vão decididos/ liquidar o comunismo […]