Espúria
A azáfama eleitoral desencadeou um frenesim de promessas, que só visto. Até o PAN realiza um congresso em Telheiras para pôr a cabeça de fora e mostrar que já não se limita aos direitos dos animais, agora também preconiza um «Serviço Nacional de Saúde» para os mesmos, enquanto insiste «não ser de esquerda nem de direita», que é a reivindicação costumeira de quem, sendo de direita e dos seus valores, não o quer assumir. A seguir ao 25 de Abril viu-se bastante disso e há também bastante gente a lembrar-se.
Quanto ao CDS, imitou o PS e rumou à Madeira, um jardim onde ambos fizeram variegados jogos florais. Falando para um agrupamento enchapelado com uma pilha de chapéus oferecidos à entrada e a dizer «CDS», Assunção Cristas distribuiu beijos e abraços, prometeu à terra «e ao mar que nos une» todas as prebendas e nomeou «a água» como foco central da sua futura política. É o que se chama meter água a fundo, na propaganda.
Em relação ao PS, lá construiu um «Chão da Lagoa» maneirinho, que António Costa encheu de «obsessão (confessada) pela Madeira» e por lancinantes apelos a que «dêem mais força ao PS!» para que o PS cumpra os grandiosos desígnios que diz ter tanto para a política nacional como para a Madeira, a quem garante construir o que nunca foi construído e aumentar o que nunca foi aumentado «em 40 Anos de domínio PSD». Ora tomem lá!
O PSD de Rui Rio é o prato principal desta campanha alegre (com os devidos respeitos ao Eça) e o próprio Rui Rio não se tem poupado a esforços, ao ponto de ter praticado futebol envergando o mítico «7» de Cristiano Ronaldo. Mas tem feito muito mais que isso: mudou a Festa do Pontal para um miradouro em Monchique, plantou um medronheiro para se solidarizar «com as vítimas dos incêndios», jogou aos matraquilhos, perorou para uma assistência algo desconfortada por não haver mesas e cadeiras para todos e desancou no PS, acusando-o de não ter desfeito… o que o PSD fizera na governação de Passos/Portas...
No dia seguinte, Rio já estava em Castelo de Vide a encerrar a «Universidade de Verão» do PSD para «laranjinhas», a quem debitou sapiências subordinadas a um bem maior - «a coragem» - lema que ele manuseou com tal fartura, que parecia ensinar os jovens a ser valentes. Mas voltou a insistir numa tecla há muito por si escolhida, a da «reforma judicial», onde quer pôr os magistrados em minoria nos órgãos superiores da Justiça, investida contra a independência dos tribunais que o homem insiste em apelidar de «democratização» e de «eficácia» do sistema, sem sequer explicar o que para ele significa «democracia»…
Aliás, se não fosse a prestação objectiva, factual e esclarecedora da CDU, esta campanha colocaria a democracia numa posição espúria.