Nicaraguenses festejam 40 anos da Revolução Sandinista

SOBERANIA Na Nicarágua foram festejados os 40 anos da Revolução Sandinista. Quatro décadas em que o povo nicaraguense tem sido alvo da permanente ingerência do imperialismo norte-americano.

Diálogo na Nicarágua com todos os que querem trabalhar pela paz

O diálogo na Nicarágua será com todos aqueles que estiverem dispostos a trabalhar pela paz e a recuperação económica e social do país, assegurou o presidente Daniel Ortega, principal orador do comício, em Manágua, do 40.º aniversário da Revolução Sandinista.

Este é o único diálogo que tem sentido e cabimento nas actuais circunstâncias históricas que vive a Nicarágua, realçou o presidente, também dirigente da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), falando na sexta-feira, 19, perante centenas de milhares de pessoas reunidas numa praça central da capital, idas de todo o país, num acto público que assinalou os 40 anos da vitória da revolução popular nicaraguense.

Ortega manifestou a disposição de continuar a avançar no diálogo com camponeses, operários, pequenos empresários, artesãos, pequenos, médios e grandes produtores, com todos aqueles que estiverem dispostos a trabalhar pela paz e a recuperação económica.

Desde há algum tempo que sectores da oposição, identificados como responsáveis pelo falhado golpe de Estado entre Abril e Julho de 2018, vêm insistindo no regresso à mesa de negociações, depois de se terem retirado das conversações com o governo, de forma unilateral, em Maio passado.

Outro tema central abordado pelo chefe do Estado da Nicarágua foi o das eleições gerais que, reiterou, serão realizadas em Novembro de 2021, tal como determina a Constituição do país. «A seu tempo virão as eleições e nós estamos preparados para ganhá-las», garantiu.

«Nós temos a confiança e a convicção de que este povo saberá defender os seus interesses, direitos e soberania da pátria», manifestou o líder nicaraguense.

 

Pelo fim das sanções

O padre católico nicaraguense António Castro pediu o fim das sanções norte-americanas que atingem o seu país, consideradas pelo governo de Manágua ilegais e violadoras do direito internacional e dos direitos humanos. Dirigindo-se a pastores evangélicos dos EUA convidados a participar nas celebrações dos 40 anos da Revolução Sandinista, solicitou-lhes que intercedam junto das autoridades norte-americanas para pôr fim às sanções.

Com quase cinco décadas de vida sacerdotal, o religioso pediu o fim da Lei Magnitsky e da conhecida Nica Act, que atenta directamente contra o desenvolvimento económico da Nicarágua, ao permitir aos EUA poder vetar o acesso a empréstimos provenientes de organismos financeiros internacionais.

 

Revolução Sandinista

O triunfo da Revolução Cubana, em 1959, ecoou em toda a América Latina e pelo mundo fora como um exemplo de que era necessária e possível a libertação dos povos, em cada país, lutando contra as brutais ditaduras apoiadas pelo imperialismo norte-americano.

Também na Nicarágua surgiu, em 1961, um movimento de jovens revolucionários, liderados por Carlos Fonseca Amador, que, dois anos depois, se transformou na Frente Sandinista de Libertação Nacional.

O nome homenageava Augusto César Sandino, o herói nacional que tinha liderado uma rebelião popular entre 1927 e 1933 e expulsado da Nicarágua um contingente de marines norte-americanos. Sandino, «general dos homens livres», foi depois traído e assassinado pela Guarda Nacional, chefiada por Anastácio Somoza, que tomou o poder em Manágua. Foi a tirania sangrenta dos Somoza, no poder ao longo de mais de quatro décadas, sempre apoiada pelos governos de Washington em defesa dos interesses económicos norte-americanos na Nicarágua, que a FSLN nos anos 60 e 70 combateu de armas nas mãos, com crescente apoio do povo. A 19 de Julho de 1979, horas depois da fuga para Miami do último dos Somoza, as forças revolucionárias sandinistas, com esse apoio popular, puseram fim à ditadura, conquistando a liberdade e a democracia.

O governo sandinista devolveu aos camponeses as terras usurpadas pela família Somoza, lançou uma ampla campanha de alfabetização, melhorou a educação e a saúde, nacionalizou importantes sectores da economia, combateu a pobreza e procurou acelerar o desenvolvimento do país.

Mas, desde o início, ao longo de toda a década de 80, os EUA sabotaram os esforços da nova Nicarágua. Organizaram, armaram e financiaram grupos de mercenários, recrutados entre antigos membros da Guarda Nacional somozista. Os Contra, dirigidos pela CIA, levaram a cabo uma guerra contra-revolucionária, forçando o governo a desviar grande parte dos recursos para a defesa do país.

Em 1985, Daniel Ortega venceu as eleições presidenciais, mas Washington intensificou a agressão, o número de vítimas aumentou – estima-se que tenham morrido 70 mil pessoas – e a situação económica agravou-se. Em 1990, a oposição de direita, financiada largamente pelos EUA e apoiante dos Contra, ganhou as eleições.

Após um período de 16 anos (1990-2006) de governos neoliberais – um retrocesso no que diz respeito aos direitos e soberania do povo nicaraguense –, os sandinistas voltaram ao poder com a vitória de Ortega nas presidenciais de 2006, repetida em 2011 e 2016.

O imperialismo norte-americano não podia tolerar a continuação da governação sandinista. E, entre Abril e Julho do ano passado, instrumentalizando dificuldades, Washington tentou, com os agentes infiltrados e pagos com milhões de dólares, um golpe de Estado na Nicarágua. Golpe falhado que, segundo números oficiais, provocou 252 mortos, mais de dois mil feridos e prejuízos económicos superiores a mil milhões de dólares.

Na ocasião, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou abertamente como «inimigos» não só a Nicarágua mas também Cuba, Venezuela e Bolívia, desmascarando os seus propósitos de esmagar as lutas dos povos latino-americanos pela soberania, pelo direito a decidir o seu futuro.

É permanente o papel dos EUA e das suas políticas de ingerência e intervencionismo, com a conivência de sectores anti-patrióticos da burguesia nacional, contra a Revolução Sandinista.

Como o provam as revoluções cubana, sandinista ou bolivariana, os povos da América Latina e das Caraíbas e as forças anti-imperialistas continuarão a resistir à ofensiva do imperialismo e a lutar pela paz, a soberania nacional, o progresso social e a cooperação.

 

PCP endereça solidariedade

O PCP enviou uma saudação à Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), no passado dia 19 de Julho, por ocasião da comemoração dos 40 anos da Revolução Sandinista.

Na sua saudação, o PCP destaca o papel da FSLN na condução da luta na Nicarágua, que culminou no processo revolucionário que libertou em 1979 o povo nicaraguense da ditadura de Somoza e do seu regime subordinado ao imperialismo norte-americano, revolução que foi fonte de inspiração para a luta libertadora dos trabalhadores e dos povos em todo o mundo.

Num momento de forte ofensiva reaccionária na América Latina, o PCP reafirmou a firme solidariedade dos comunistas portugueses com a luta e resistência da FSLN e dos trabalhadores e povo nicaraguenses, exigindo respeito pela soberania e independência da Nicarágua e do seu povo e o direito inalienável que lhe assiste em determinar o seu futuro.

O PCP desejou sucessos para as exigentes batalhas travadas em prol da paz, dignidade, justiça, desenvolvimento e progresso social para o povo nicaraguense, bem como na acção da FSLN com vista ao fortalecimento dos laços de solidariedade e cooperação entre os povos da América Latina e das Caraíbas e a paz e amizade entre os povos no mundo, rejeitando a política de exploração, chantagem e ingerência do imperialismo.

 



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