Ao recuperar direitos e rendimentos o povo recuperou a esperança
CONTRADIÇÕES No último debate da legislatura sobre o estado da Nação, o PCP valorizou o percurso de recuperação de direitos e rendimentos e realçou os problemas estruturais que permanecem por resolver.
Foi graças ao Governo do PS que não se avançou mais
«O País vive hoje uma situação diferente daquela que se apresentava há quatro anos. Portugal mudou para melhor com a decisiva contribuição do PCP», afirmou da tribuna da Assembleia da República, faz amanhã uma semana, Jerónimo de Sousa. Se é certo que não estão resolvidos os grandes problemas nacionais, porque não está concretizada uma verdadeira política alternativa, o Secretário-geral do Partido reconheceu nesta legislatura um tempo de «avanços na melhoria das condições de vida do povo português» e de «recuperar e conquistar direitos e rendimentos».
No mesmo dia, mas noutra intervenção, o dirigente comunista sublinhara que o «estado da Nação é o estado de um país que estancou algumas das mais graves chagas sociais» e de um povo que, «recuperando direitos e rendimentos, recuperou a esperança no futuro». Tal não esconde que, como de imediato referiu, se mantenham graves problemas estruturais e a «insatisfação popular perante expectativas por concretizar».
Voltando àquela que foi a intervenção principal do PCP nesse debate, Jerónimo de Sousa realçou que se «ficaram problemas por resolver e expectativas por concretizar» não foi por falta de acção, iniciativa e proposta do PCP, mas sim porque a disponibilidade e o contributo dos comunistas foram, muitas vezes, «recusados por opção do PS». Foram os casos, entre outros, do aumento dos salários, e principalmente do Salário Mínimo Nacional, da protecção dos direitos dos trabalhadores, do reforço dos serviços públicos.
O Governo, muito embora tenha tido quatro orçamentos do Estado aprovados que permitiam todas essas medidas, «optou por colocar as metas do défice à frente dos direitos dos trabalhadores e do povo», notou o dirigente comunista.
A política que se impõe
Retirando conclusões da actual legislatura, Jerónimo de Sousa realçou ser necessária no futuro uma «nova correlação de forças, mais favorável aos trabalhadores e ao povo», para concretizar a política alternativa que se impõe. Quanto às responsabilidades e à influência do PCP, acrescentou, elas dependerão obviamente «da força que o povo nos der».
Passando à política alternativa propriamente dita, o Secretário-geral do Partido reafirmou aquela que é uma conclusão antiga dos comunistas: o desenvolvimento do País exige uma política de «desenvolvimento soberano que rompa com a política de direita, liberte o País dos constrangimentos e condicionamentos de uma dívida pública sufocante, da submissão aos interesses do capital monopolista e das imposições da União Europeia e do euro». Nessa política alternativa, a valorização salarial deveria ser assumida como «emergência nacional», sublinhou.
O aumento substantivo do investimento público é outra necessidade apontada por Jerónimo de Sousa, que destacou a Saúde e os transportes como áreas a priorizar. A justiça fiscal, o desenvolvimento das forças produtivas, a ampliação da protecção social, a coesão e equilíbrio nacional, a salvaguarda da natureza e do ambiente e o firme combate à corrupção e à criminalidade económica e financeira foram outros aspectos realçados pelo Secretário-geral do Partido.
Respostas para já!
Na pergunta que dirigiu ao Primeiro-ministro, Jerónimo de Sousa realçou ser ainda tempo de implementar medidas que «não devem ficar à espera». Questionando António Costa acerca das opções do Governo em matéria de legislação laboral, o Secretário-geral comunista garantiu que havendo vontade política do PS para «romper com uma legislação laboral favorável à exploração e ao emprego precário e sem direitos não faltam os deputados, os votos ou as propostas do PCP para revogar as normas gravosas da legislação laboral e defender os direitos dos trabalhadores.» Porém, a resposta do Governo a este respeito está clara na legislação cozinhada com as confederações patronais e a UGT e aprovada com PSD e CDS…
Jerónimo de Sousa quis ainda saber o que o Governo fará para aplicar o que ficou consagrado nos orçamentos do Estado relativamente à contratação de pessoal e realização de investimentos no SNS e nos transportes, «sem ficar à espera da próxima legislatura».
A última questão dirigida a António Costa foi sobre os manuais escolares gratuitos, medida que, para Jerónimo de Sousa, constituiu «uma das conquistas com maior alcance social e ambiental da legislatura, de que o PCP muito se orgulha». Porém, denunciou, a obrigação de apagar livros e as ameaças feitas a muitas famílias de exclusão da gratuitidade no próximo ano lectivo não respeitam o que foi aprovado.
Avançou-se muito mas era possível ter-se ido mais longe
A deputada Diana Ferreira garantiu no debate que o PCP continuará a bater-se por medidas que respondam a problemas sociais, independentemente da recusa do PS em aceitá-las. Entre elas, contam-se o aumento das pensões e o reforço do abono de família, a eliminação do factor de sustentabilidade, a reposição da idade de reforma aos 65 anos e o reconhecimento do direito à reforma sem penalizações com 40 anos de descontos. A deputada eleita pelo círculo eleitoral do Porto deixou ainda o compromisso de prosseguir a intervenção no sentido de «garantir às jovens famílias a certeza e a segurança de creche gratuita para todas as crianças até aos três anos».
Já Carla Cruz criticou o Governo por ter rejeitado propostas do PCP que visavam a contratação de profissionais de saúde e a atribuição de incentivos para a sua fixação em zonas carenciadas, a valorização e melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde e o aumento do investimento na construção e reabilitação de edifícios e na aquisição e renovação de equipamento clínico. Porém, adiantou, «é ainda tempo de concretização de todas essas medidas, e de outras inscritas no Orçamento do Estado, para que o Serviço Nacional de Saúde dê respostas mais céleres e adequadas aos utentes».
Rita Rato, por seu lado, centrou-se em matérias laborais, exigindo avanços reais nos direitos dos trabalhadores. Valorizando a diminuição da taxa de desemprego e o aumento do emprego na presente legislatura, a deputada destacou que a 40 por cento dos novos contratos está associado o Salário Mínimo Nacional SMN), o que não é suficiente para uma vida digna, como comprova o facto de um terço das pessoas em situação de pobreza serem trabalhadores. Exige-se, assim, o aumento do SMN para 850 euros. Rita Rato também criticou o alargamento do período experimental para jovens e desempregados de longa duração, que considerou uma oferta do Governo ao patronato. A deputada lembrou que uma medida semelhante fora já declarada inconstitucional em 2009.