Levantamento popular prossegue no Sudão

Carlos Lopes Pereira

Pros­segue o le­van­ta­mento po­pular no Sudão apesar da forte re­pressão dos gol­pistas mi­li­tares no poder. As forças de­mo­crá­ticas su­da­nesas con­ti­nuam a exigir a for­mação ime­diata de um go­verno civil.

Esta se­mana, após a me­di­ação da Etiópia, através do seu pri­meiro-mi­nistro Abiy Ahmed, o Con­selho Mi­litar de Tran­sição, que di­rige o país desde o golpe mi­litar que afastou o pre­si­dente Omar al-Bashir, a 11 de Abril, e a Ali­ança para a Li­ber­dade e a Mu­dança, que con­grega as forças de­mo­crá­ticas, de­ci­diram re­tomar as con­ver­sa­ções. Isto, após três dias de greves e de­so­be­di­ência civil que dei­xaram Cartum quase de­serta e com bar­ri­cadas a blo­quear as ruas – uma ga­rantia de que a re­sis­tência po­pular não cessou.

A Ali­ança para a Li­ber­dade e Mu­dança, que tem co­or­de­nado as ac­ções de luta, desde De­zembro de 2018, é in­te­grada por sin­di­catos, mo­vi­mentos so­ciais e par­tidos po­lí­ticos, entre os quais o Par­tido Co­mu­nista Su­danês.

Os me­di­a­dores etíopes pro­pu­seram aos mi­li­tares e à opo­sição de­mo­crá­tica a cons­ti­tuição de uma au­to­ri­dade de tran­sição, for­mada por oito civis e sete mi­li­tares, com pre­si­dência ro­ta­tiva. As agên­cias no­ti­ci­osas in­formam que a opo­sição su­da­nesa vai in­dicar os nomes dos seus re­pre­sen­tantes, que in­cluem três mu­lheres. Este Con­selho So­be­rano go­ver­nará o Sudão até à re­a­li­zação de elei­ções de­mo­crá­ticas.

As ne­go­ci­a­ções ti­nham sido in­ter­rom­pidas de­pois de, no dia 3, tropas e mi­lí­cias para-mi­li­tares terem dis­per­sado vi­o­len­ta­mente ma­ni­fes­tantes acam­pados de­fronte do co­mando mi­litar na ca­pital su­da­nesa, pro­vo­cando mais de uma cen­tena de mortos e de 500 fe­ridos. As forças «da ordem», per­ten­centes à fa­mi­ge­rada Força de In­ter­venção Rá­pida – con­tro­lada pelo ge­neral Mohamad Hamdan Daglo, nú­mero dois da junta mi­litar –, per­se­guiram e de­ti­veram também di­ri­gentes da opo­sição, que foram li­ber­tados dias mais tarde.

Em con­tra­par­tida, e no que pa­rece ser uma res­posta às exi­gên­cias po­pu­lares, os mi­li­tares anun­ci­aram a de­tenção «de vá­rios mem­bros das forças re­gu­lares» que serão res­pon­sa­bi­li­zados pelo seu en­vol­vi­mento nos ata­ques contra os ma­ni­fes­tantes.

A opo­sição va­lo­rizou o gesto mas con­si­derou-o «in­su­fi­ci­ente» e in­siste que os man­dantes da ma­tança devem também ser iden­ti­fi­cados, presos e jul­gados. Antes, a ali­ança de­mo­crá­tica tinha exi­gido a cri­ação de uma co­missão in­ter­na­ci­onal que in­ves­tigue de forma in­de­pen­dente o mas­sacre de opo­si­ci­o­nistas.

No plano in­ter­na­ci­onal, a União Afri­cana, que re­co­mendou a me­di­ação da Etiópia, de­cidiu sus­pender o Sudão da or­ga­ni­zação con­ti­nental en­quanto os mi­li­tares não ace­derem a trans­ferir o poder para os civis.

O Con­selho de Se­gu­rança das Na­ções Unidas con­denou ge­ne­ri­ca­mente «a vi­o­lência» no país afri­cano e apelou à junta mi­litar no poder em Cartum e ao mo­vi­mento po­pular para que ne­go­ceiem uma so­lução con­sen­sual.

Por outro lado, foi no­ti­ciado que os Es­tados Unidos vão en­viar a Cartum o seu se­cre­tário de Es­tado ad­junto para os as­suntos afri­canos, Tibor Nagy, com o ob­jec­tivo de «re­forçar» os avanços con­se­guidos pela me­di­ação etíope.

É claro que Washington, de forma di­recta e por in­ter­médio de ali­ados seus – em es­pe­cial Arábia Sau­dita, Emi­rados Árabes Unidos e Egipto, que apoiam a junta mi­litar su­da­nesa – pre­tende au­mentar pres­sões e in­ge­rên­cias no Sudão e travar as forças po­pu­lares que na­quele país con­ti­nuam a bater-se pela ins­tau­ração de um re­gime de­mo­crá­tico.



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