Enquanto falam os dominantes

Manuel Gouveia

Nunca se sa­berá se a mai­oria dos mo­to­ristas se abs­teve ou votou a favor da­queles que no Par­la­mento Eu­ropeu cau­ci­o­naram e vão cau­ci­onar o in­cre­mento da sua ex­plo­ração. Nunca se sa­berá se a mai­oria dos pro­fis­si­o­nais do táxi se abs­teve ou votou a favor da­queles que pro­mo­veram o pro­cesso de li­be­ra­li­zação e a con­cor­rência des­leal das mul­ti­na­ci­o­nais. Nunca se sa­berá se a mai­oria dos tra­ba­lha­dores dos Cen­tros de Con­tacto se abs­teve ou votou a favor da­queles que apro­varam a le­gis­lação que per­mite a sua pre­ca­ri­e­dade. Nunca se sa­berá se a mai­oria dos fer­ro­viá­rios se abs­teve ou votou a favor da­queles que im­pu­seram e con­ti­nuam a impor os pa­cotes fer­ro­viá­rios que aca­barão por des­truir a CP e a fer­rovia na­ci­onal. Nestas e em todas as an­te­ri­ores elei­ções.

Nunca se sa­berá se com o seu voto – ou a sua abs­tenção – con­tri­buíram para o de­sen­vol­vi­mento de po­lí­ticas que os vão pre­ju­dicar di­rec­ta­mente, contra as quais con­ti­nuam a po­si­ci­onar-se e sobre as quais estão dis­po­ní­veis a vir à luta con­nosco.

O que sa­bemos é que as classes do­mi­nantes dis­põem de ins­tru­mentos po­de­ro­sís­simos para ga­rantir a dis­so­ci­ação entre o in­te­resse de classe de cada ci­dadão e o sen­tido do seu voto. É assim que fun­ciona o ac­tual sis­tema de do­mi­nação. Ele não é re­for­mável. E essa é até a razão porque al­guns se abstêm, porque lhes per­mitem en­trever esse as­pecto inútil do voto, mas ig­noram até hoje que a su­pe­ração do sis­tema é pos­sível, e de como o seu voto pode ser um ele­mento útil nesse pro­cesso.

Con­ti­nu­a­remos a re­sistir, com os tra­ba­lha­dores e o povo, e a avançar o pos­sível. A li­bertar Ho­mens e Mu­lheres e a or­ga­nizá-los no Par­tido ou com o Par­tido. Pre­pa­rando o dia em que fa­larão os do­mi­nados, e fa­larão com a cla­reza da água que rompe di­ques e mar­gens, fa­zendo tremer a his­tória até aos seus ali­cerces.

Mas agora falam os do­mi­nantes, os ex­plo­ra­dores, e a nossa vi­tória é não perder nem a pers­pec­tiva nem a con­fi­ança. Ven­çamos!




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