União Europeia, a luta continua
O que predomina é o alinhamento da UE com os EUA contra os trabalhadores e os povos
Por força das circunstâncias este artigo é escrito antes de conhecidos os resultados das eleições para o Parlamento Europeu. Claro que não é indiferente a arrumação de forças que deles resultar, mas só por si eles não alteram as tendências de fundo do processo de integração capitalista europeu cuja essência consiste na construção de um poderoso bloco económico-político-militar hegemonizado pelo grande capital e pelas grandes potências. E se há algo de que podemos estar seguros é que na sua análise destas eleições a comunicação social dominante tudo fará para iludir a crise que grassa no processo de integração, impor a ideia de que a UE e a moeda única são fatalidades que é perigoso questionar («Brexit» dixit), que não há alternativa à deriva ultra-liberal, federalista e militarista em curso inerente à própria dinâmica de desenvolvimento capitalista.
O carácter da UE como bloco imperialista tornou-se nos últimos tempos mais nítido. Todos os pretextos têm servido para passar a ideia de que o «gigante económico» tem de ser também um gigante político com uma política externa comum, e um gigante militar dotado da sua própria defesa e do seu próprio exército. São ideias que vêm de longe e que ganham força, já não só com o pretexto de «defender os interesses da Europa» em qualquer ponto mundo contra o «terrorismo», mas frente a uma cada vez maior «ameaça russa», e até mesmo perante o «desinteresse de Trump» pela «protecção da Europa». Macron (com quem António Costa está a cultivar estranhas relações), ao defender medidas para «fazer frente à China, à Rússia e mesmo aos EUA» não faz mais do que dar voz às ambições geo-estratégicas do bloco capitalista europeu, com o que aliás só vem confirmar teses centrais de Lénine sobre o imperialismo.
Ironia do destino. A CEE/UE que, no auge da «guerra fria» nasceu sob a égide e subordinada ao imperialismo norte-americano para combater a União Soviética e «conter o comunismo», está a ser abalada por uma real crise de confiança em relação ao aliado do outro lado do Atlântico. O que não e de estranhar. Os monopólios de base europeia têm aspirações a «campeões» que se chocam com as dos monopólios norte-americanos numa disputa que se acentua com o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo. E a política do «America First» com que a administração Trump procura deter o declínio dos EUA, dirigida em primeiro lugar contra a China mas envolvendo também arrogantes exigências aos seus próprios aliados, gera dificuldades e contradições suplementares.
Importa porém não esquecer que o que continua a predominar é a solidariedade de classe, é o alinhamento da UE com os EUA contra os trabalhadores e contra os povos como acontece, ainda que às arrecuas, em relação à ofensiva golpista contra a Venezuela, à ruptura pelos EUA do acordo nuclear com o Irão, às sanções à Rússia e ao apoio aos fascistas na Ucrânia ou à guerra comercial dos EUA com a China. No prosseguimento da luta para libertar Portugal das amarras da UE e por uma outra Europa dos trabalhadores e dos povos, é importante ter em conta este complexo feixe de contradições e recusar que Portugal seja joguete das aspirações do bloco imperialista europeu.