Jerónimo de Sousa no debate quinzenal com o primeiro-ministro

Acabar com a sangria de recursos e integrar Novo Banco na esfera pública

GESTÃO O PCP in­siste que é pre­ciso co­locar o Novo Banco sob con­trolo pú­blico e voltou a tecer duras crí­ticas à con­dução de todo o pro­cesso e à venda do banco à mul­ti­na­ci­onal Lone Star.

Venda do Novo Banco foi feita à me­dida dos in­te­resses da Lone Star

«Não é tempo de parar com este pro­cesso de venda e in­te­grar o banco na es­fera pú­blica, tal como o PCP já tinha pro­posto aquando da Re­so­lução do BES e no­va­mente em Abril de 2017?», ques­ti­onou Je­ró­nimo de Sousa, para quem é claro que «se o Es­tado paga o banco, o Es­tado deve gerir o banco ao ser­viço do País»..

A per­gunta foi for­mu­lada pelo Se­cre­tário-geral do PCP quinta-feira pas­sada, 7, no de­bate quin­zenal com o pri­meiro-mi­nistro, a quem lem­brou que o PCP já em 2017 aler­tara para os riscos de vender o banco, pondo em causa re­cursos pú­blicos para vi­a­bi­lizar um banco de­tido por um grupo eco­nó­mico trans­na­ci­onal.

«A partir do mo­mento em que o BES foi ge­rido como foi, em que o Es­tado de­cidiu pro­ceder à sua re­so­lução em 2014, qual­quer ca­minho era de risco», jus­ti­ficou-se o chefe do Go­verno, ar­gu­men­tando que em 2017 a questão era «como mi­norar os riscos para o Es­tado e para os con­tri­buintes». Em cima da mesa, alegou, es­tavam dois ce­ná­rios. Hi­pó­tese um, «se vol­tasse a fa­lhar a venda, o banco tinha que ser li­qui­dado», o que «punha em causa grande parte dos de­po­si­tantes, os postos de tra­balho, as re­la­ções do banco com o te­cido em­pre­sa­rial», além de um «dano re­pu­ta­ci­onal grande quanto à es­ta­bi­li­dade do sis­tema fi­nan­ceiro». A hi­pó­tese dois – a na­ci­o­na­li­zação -, para o chefe do Go­verno sig­ni­fi­caria que o Es­tado «as­su­miria todo o risco das ne­ces­si­dades de ca­pital, que já vão pró­ximas dos 9 000 mi­lhões de euros».

«Es­tamos a falar de mais de 9 900 mi­lhões de euros de fundo per­dido que não re­cu­pe­ra­ríamos, não re­ce­be­ríamos juros e es­ta­ríamos a ficar com um banco que tinha esta enorme carga de pro­blemas», re­sumiu, en­ca­rando a si­tu­ação como um «risco ex­ces­sivo».

Con­si­derou, por isso, «equi­li­brada» a so­lução en­con­trada, re­pe­tindo a can­ti­lena de que «era aquela que no con­texto da re­so­lução ini­ciada em 2014 me­lhor pro­tegia os tra­ba­lha­dores do banco, os cli­entes, os de­po­si­tantes, a es­ta­bi­li­dade do sis­tema fi­nan­ceiro».

A ali­e­nação do banco foi ainda «ab­so­lu­ta­mente de­ci­siva para a re­cu­pe­ração do nosso ra­ting, para a re­dução sus­ten­tada da taxa de juro», sus­tentou o go­ver­nante, as­si­na­lando que na al­tura o juro «es­tava acima dos quatro por cento e hoje ronda o 1,3 por cento».

Fato à me­dida da Lone Star

«Não sou pro­pri­a­mente um ar­tista em eco­nomia mas há uma coisa que eu per­cebo: no meio disto tudo quem se vai safar é a trans­na­ci­onal, é a Lone Star, que tem sempre o fu­turo ga­ran­tido», re­plicou Je­ró­nimo de Sousa.

Antes, o líder co­mu­nista in­ter­pretou de modo bem di­fe­rente do pri­meiro-mi­nistro o que está em causa com o novo pre­juízo de 1400 mi­lhões de euros apre­sen­tado pelo Novo Banco e o anúncio de que este vai re­correr mais uma vez ao fundo de re­so­lução para pedir mais 100 mi­lhões de euros. Isto a somar aos mais de 4 000 mi­lhões de euros gastos pelo Es­tado por­tu­guês, na Re­so­lução do BES e dos 2 000 mi­lhões de euros pe­didos pelo Novo Banco já de­pois da sua venda à Lone Star

Para Je­ró­nimo de Sousa, este é o re­sul­tado, mais uma vez, das «im­po­si­ções da Co­missão Eu­ro­peia, que PS, PSD e CDS acei­taram, desde a re­so­lução do BES até à venda do Novo Banco à Lone Star».

Mais, acusou, é o re­sul­tado de uma «gestão feita à me­dida dos in­te­resses da Lone Star».




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