Mais vale

Anabela Fino

O mas­sacre já co­meçou e ainda agora a pro­cissão vai no adro. Não é nada que não fosse de es­perar em ano de elei­ções, evi­den­te­mente, pois só quem anda muito, mas muito dis­traído ou ainda acre­dita no pai natal é que podia pensar que a di­reita se re­signou à «mu­dança de pa­ra­digma» re­gis­tada em 2015 na for­mação de mai­o­rias. Não só não se re­signou como dá mos­tras de não ter es­crú­pulos em re­correr às mais sór­didas ma­no­bras para tentar de­ne­grir o ad­ver­sário que ver­da­dei­ra­mente a pre­o­cupa, a saber, o PCP.

O ataque, de tão no­to­ri­a­mente or­ques­trado, deixou o «gato» de fora, mas isso pa­rece ser ir­re­le­vante para quem não he­sita em re­correr re­pe­ti­da­mente à men­tira para ma­ni­pular o elei­to­rado, es­cu­dado no con­trolo quase ab­so­luto que os grandes grupos eco­nó­micos e po­lí­ticos exercem sobre os meios de co­mu­ni­cação so­cial.

De­si­ludam-se os que ainda crêem que as po­ten­ciais ví­timas serão «só» os co­mu­nistas. A ma­ni­pu­lação da in­for­mação, as no­tí­cias falsas, as meias ver­dades, a des­con­tex­tu­a­li­zação dos factos visam fazer aceitar como normal a anor­ma­li­dade, fo­mentam de­li­be­ra­da­mente o des­cré­dito nas or­ga­ni­za­ções so­ciais e po­lí­ticas, ali­mentam o obs­cu­ran­tismo, abrem ca­minho aos «sal­va­dores da pá­tria». São um ataque frontal à de­mo­cracia.

A la­vagem ao cé­rebro que está a ser feita através dos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial é de tal ordem que não sus­cita co­men­tá­rios, aos de­fen­sores do plu­ra­lismo e da isenção, o facto de um pro­grama te­le­vi­sivo, re­ci­clado com tro­ca­dilho de nome e mu­dança de es­tação, ter sido es­treado com o alto pa­tro­cínio do PR, que para o efeito aco­lheu em Belém os mesmos mem­bros do PS, PSD e CDS que há 14 (ca­torze!) anos dão e fazem opi­nião sem mais con­tra­di­tório.

A la­vagem ao cé­rebro que está a ser feita é tal que os ditos de­fen­sores da li­ber­dade de ex­pressão apre­sentam como men­sa­geiros da ver­dade os mesmos que no pas­sado re­cente nos ven­deram a atroz men­tira das armas de des­truição mas­siva no Iraque ou a ba­lela da de­fesa dos di­reitos hu­manos na Líbia, por exemplo, para jus­ti­fi­carem guerras que ali­men­taram a sua in­sa­ciável ga­nância de ma­té­rias-primas, pouco im­por­tando que para isso te­nham des­truído um país, li­qui­dado um Es­tado, pro­vo­cado mi­lhões de ví­timas. Agora é a Ve­ne­zuela, mas a Ni­ca­rágua já está na calha e Cuba está sempre na mira.

Men­tindo e vol­tando a mentir, se­guindo a car­tilha do im­pério, os media do­mi­nantes, do­mi­nados pelo ca­pital, estão a fazer à des­ca­rada aquilo para que na ver­dade existem: impor o pen­sa­mento único, anes­te­siar a crí­tica, pro­mover o car­nei­rismo, ser a voz do dono.

Como a His­tória nos en­sina, o su­cesso destes se­gui­dores de Jo­seph Go­eb­bels, o homem de Hi­tler para a «in­for­mação» e pro­pa­ganda do Ter­ceiro Reich, pode ter con­sequên­cias trá­gicas. Mais vale des­con­fiar de tanto amor à de­mo­cracia e pro­curar in­for­mação al­ter­na­tiva.




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