De quem depende que ela acabe?

Manuel Rodrigues

Em relatório anual divulgado esta semana a organização não governamental inglesa, Oxfam, revelou dados impressionantes sobre o aprofundamento dos níveis de desigualdade social no mundo, no ano de 2018. Segundo esta organização, no ano passado, em cada dois dias, surgiu um novo multimilionário enquanto os 3,8 mil milhões mais pobres viu o seu património diminuir diariamente em 500 milhões de dólares; Os 26 capitalistas mais ricos do mundo concentram hoje uma riqueza equivalente ao património das 3,8 mil milhões das pessoas mais pobres, ou seja, metade da população mundial.

Tudo tem a ver – afirma a Oxfam – com os injustos sistemas tributários que penalizam sobretudo as camadas mais desfavorecidas da população mundial e subtributam os ricos e com o subfinanciamento dos serviços públicos.

Falta acrescentar, e isso a Oxfam não diz, que para esta desigualdade social contribuem, de forma particular, os baixos salários, as baixas reformas e pensões (e de um modo geral a insuficiente, diminuta ou ausente protecção social em muitas regiões do mundo), o trabalho precário e o desemprego, grandes responsáveis pela pobreza.

O que a Oxfam não diz é que, na génese desta gritante injustiça social está o capitalismo com a sua natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora (agravada com a sua crise estrutural). E também nunca diria (que não é da sua natureza) que, para lhe pôr fim, é fundamental a luta pela democracia e pelo socialismo. E muito menos diria que organizações que lutam por estes objectivos, como é o caso do PCP, são imprescindíveis. Como do mesmo modo não dirá que de cada um de nós depende que as organizações que lutam se reforcem para que ela acabe. Porque, citando Brecht. «Quem ainda está vivo nunca diga: nunca. / O que é seguro não é seguro. / As coisas não continuarão a ser como são». Se lutarmos, é claro.




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