Direitos, Direita e Demagogia

Manuel Gouveia

Em 2016, o Governo minoritário do PS aproveitou a boleia de um Decreto-Lei (40/2016) de simplificação do Código da Estrada para realizar um alargamento da idade de reforma dos motoristas profissionais dos 65 para os 67 anos.

Imediatamente o PCP chamou o Decreto-Lei à apreciação parlamentar, e face ao não agendamento desta, o Partido apresentou um projecto-lei de reversão desse alargamento da idade da reforma.

O STRUP e a FECTRANS de imediato exigiram a reversão, lançaram uma petição assinada por milhares de motoristas e promoveram rondas de reuniões com os diferentes partidos. Como deram publicamente nota, todos os partidos deram razão aos trabalhadores e comprometeram-se a reverter esse alargamento. E discretamente, PS, PSD e CDS assassinaram a petição em comissão, com uns tecnicismos paralegais.

Entretanto, o projecto-lei do PCP foi agendado para votação (em conjunto com outro similar do BE), foi primeiro aprovado no plenário da Assembleia da República, tendo passado à discussão em comissão, onde, discretamente, PS, PSD e CDS juntaram os seus votos (entre contrários e abstenções) para arrumar com a iniciativa do PCP e manter a idade da reforma dos motoristas profissionais nos 67 anos.

Já esta semana, foi o Presidente da República, cuja assinatura permitiu a publicação do Decreto-Lei 40/2016, que veio a público indignar-se com o facto da idade de reforma dos motoristas profissionais ser tão elevada.

De um lado, a postura atenta, séria e silenciada do PCP, em defesa dos direitos dos trabalhadores. Do outro, a postura demagógica, subserviente aos interesses do patronato e amplamente mediatizada dos representantes da política de direita.

Indignemo-nos. Indignemos todos os que conseguirmos. Mas mais importante e decisivo para que isto mude e se avance, levantemos a luta contra a exploração dos motoristas profissionais e de todos os trabalhadores.




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