Histeria anti-Venezuela

Luís Carapinha

É vital prosseguir a solidariedade com a República Bolivariana da Venezuela

A campanha contra a Venezuela bolivariana arremete de novo ferozmente. Agora com o miserável pretexto do não reconhecimento do mandato presidencial de Nicolás Maduro iniciado a 10 de Janeiro, depois do triunfo nas eleições de 20 de Maio com mais de 65 por cento dos votos. É claro que o tema Venezuela desapareceria sem rasto se, porventura, os EUA e o séquito de aliados-vassalos, do degradante ‘grupo de Lima’ à UE em crise, conseguissem finalmente impor um governo títere no país e Juan Guaidó – o presidente do parlamento em desobediência constitucional – fosse efectivamente o presidente da Venezuela, como o acaba de reconhecer o suprademocrático governo de Bolsonaro. Tudo voltaria à ‘normalidade’. O repto subversivo da revolução bolivariana cairia soterrado e o grande capital voltaria a ter mãos livres para sacar as fabulosas riquezas naturais do país sul-americano, entre as quais as maiores reservas conhecidas de petróleo do planeta. As pungentes preocupações humanitárias e os uivos e queixas em torno da pobreza e autoritarismo recolheriam ao manto de silêncio e esquecimento em que repousaram até à irrupção do movimento bolivariano e da figura de Chávez.

Quanto mais o imperialismo intensifica a guerra económica para infernizar a vida do povo venezuelano, mais a comunicação social dominante serve de caixa de ressonância da urgência ‘humanitária’ no país. Sem ponta de imparcialidade e equilíbrio informativo, a campanha em curso vira do avesso a realidade venezuelana.

À sua sombra, permanecem também na obscuridade as raízes da exploração e os atropelos que compõem o panorama latino-americano. É assim que se ignora, por exemplo, a gravíssima situação de repressão na Colômbia, em que prossegue a matança diária de dirigentes sociais, os desmandos neoliberais na Argentina sob o governo de Macri ou a podridão da ‘democracia das bananas’ nas Honduras, povoada de pobreza e opressão, país em que um presidente incómodo pode ser deposto durante a noite, de pijama, e levado para uma base militar dos EUA e onde a OEA já esqueceu a eleição fraudulenta que reconduziu no poder Juan Hernández, um dos signatários do grupo de Lima. Para o ‘cartel’ da oligarquia não há tempo a perder com miudezas, como o golpe de estado no Brasil e o reaccionarismo fascizante do governo de Bolsonaro…

O que de facto está em causa em toda a arrastada histeria fixada na Venezuela é o ataque afilado contra a sua independência e soberania nacional, contra a Carta da ONU e o direito dos povos a determinar o seu caminho, nestes tempos conturbados de crise do capitalismo. Contra o papel do processo venezuelano no movimento de emancipação social e as dinâmicas de cooperação regional no subcontinente, confrontados com uma poderosa ofensiva restauradora da direita. O imperialismo solta os demónios do anticomunismo e da perversão ideológica. A OEA ressurge como ministério das colónias, com Almagro no papel de lacaio-mor, a par da decrépita doutrina Monroe, de salvaguarda do domínio absoluto do poder dos EUA no ‘quintal das traseiras’, que volta a ser emproada sem qualquer prurido em Washington.

Por isso, não desconhecendo as dificuldades e problemas enfrentados, é vital prosseguir a solidariedade com a resistência e luta populares em defesa da independência da Venezuela e das conquistas e avanços dos últimos 20 anos.




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