Falhou o ensaio. Mas cuidado com os promotores e seus propósitos
Falhou o ensaio em torno dos «coletes amarelos». Não foi por falta de empenho da comunicação social dominante, que passou dias a fio a promover a dita iniciativa que ameaçava encher de «manifestantes» as avenidas, fechar estradas e acessos às principais cidades, em nome da redução do número de deputados, do combate aos políticos e à corrupção.
Alguns esperariam que, face a anos a fio de concepções reaccionárias servidas nas manchetes da imprensa, numa parte substancial do comentário das televisivo ou nos fóruns e antenas abertas com que se disfarça o pensamento único, à primeira oportunidade, o povo saísse à rua para exigir um novo Salazar. Não foi isso que se verificou, mas a derrota que tiveram nesta operação não deve levar a subestimações.
A situação do País é contraditória. Com avanços concretos na vida de milhões de portugueses que, por mais campanhas que promovam não conseguem disfarçar – veja-se o subsídio de Natal agora pago a mais de 3 milhões de pessoas –, mas também com os constrangimentos e limitações que se conhecem das opções do Governo minoritário do PS e que impedem uma mais ampla resposta a problemas estruturais, provoca descontentamentos. A direita, incluindo a própria extrema-direita, cuja promoção vai crescendo, procuram explorar e federar todo o tipo de descontentamentos, falta-lhes, para já, quem no plano político agregue tais propósitos.
Não se confunda, por isso, esta operação, que importou um «modelo» vindo de França com a justa luta dos trabalhadores e do povo português pela defesa, reposição e conquista de direitos. Luta essa que não teve, e desconfio que não terá, nem um décimo da promoção e da cobertura a que assistimos agora. Luta organizada, cujos promotores não se escondem atrás de apelos anónimos nas redes sociais. Lutas que não são nem tradicionais ou inovadoras, mas sim, justas e adequadas à necessária mudança de que o País precisa.
Uma mudança no sentido do progresso, da justiça social, do aprofundamento de uma democracia que se quer comprometida com os valores de Abril.