Os coletes do capital
A operação político-mediática dos chamados «coletes amarelos portugueses» redundou num enorme fracasso. Mas os seus objectivos vão mais além da operação do passado dia 21 e não se esgotam nela. Como temos vindo a afirmar, Portugal não é uma «ilha» ideológica. Apesar de particularidades históricas e sociais, da especificidade das forças em presença (nomeadamente da existência de um forte Partido Comunista) e da recente evolução política, o nosso País não está imune às tendências gerais que se desenvolvem no quadro da profunda crise do capitalismo.
Aquilo que foi tentado em Portugal não foi fruto de um grupo de «carolas» da Internet. Foi uma operação conspirada, decidida, financiada e apoiada pelo grande capital e pela comunicação social ao seu serviço, que visou alimentar uma agenda reaccionária que tenta fazer caminho no nosso País, e que como noutros momentos da História alimenta e dá campo e visibilidade à extrema-direita e ao seu discurso populista, xenófobo, de ódio, com o seu falso discurso «anti-sistema».
Mas aquilo que aconteceu na passada sexta-feira foi exactamente o sistema – capitalista – a funcionar, e a extrema direita funcionou, como sempre, como um seu instrumento. Foi o grande capital e a comunicação social, que é sua propriedade e está ao seu serviço, que desencadeou durante quase duas semanas uma operação de propaganda, mobilização e incitamento à violência. Foi a comunicação social que silencia, quase em absoluto, manifestações de trabalhadores com dezenas de milhares de participantes, que dedicou dezenas de horas de antena e gastou verdadeiras fortunas em meios técnicos e humanos numa vergonhosa e ridícula acção de manipulação.
Depois desta operação tornam-se ainda mais visíveis as consequências da privatização e concentração monopolista da comunicação social. Consequências que chegam ao ponto de o canal público de rádio e televisão ter participado dessa mesma operação.