Manipular silenciando ou repetindo

Nesta coluna denunciamos, quase sempre, a forma como a acção e intervenção do PCP é ocultada do espaço mediático. Esta semana, partimos do inverso: da alteração ao Orçamento do Estado para 2019 mais escrutinada nos dias seguintes à sua aprovação, a inclusão de três novas vacinas no Programa Nacional de Vacinação (PNV).

Desta vez, a comunicação social dominante sublinhou repetidamente que a proposta foi da autoria do PCP, ao contrário do que acontecera com tantas outras, aprovadas e rejeitadas. Mas esta excepção surgiu visando atacar a proposta, numa linha concertada com interesses de quem preferiria ver as três vacinas, recomendadas pelos especialistas e indicadas aos pais pela grande maioria dos pediatras e médicos de família, fora do PNV.

Num movimento sincronizado, repetiram-se declarações de antigos e actuais governantes. Assistimos até a uma inaudita conferência de imprensa da Directora-geral da Saúde para comentar uma decisão política. Porque era disso que se tratava, uma decisão política. Depois do consenso técnico, o que faltava era garantir a universalização de vacinas recomendadas para todos, mas que só alguns pais conseguem pagar.

Como ficou claro, inclusivamente nas declarações críticas que se seguiram à aprovação da medida, o que faltava estudar não era a utilidade ou eficácia das vacinas em causa, mas sim a relação custo-benefício. Ou seja, faltava fazer contas para perceber se valia a pena ser o Estado a pagá-las ou manter o ónus de decidir sobre a protecção das crianças contra doenças que podem ser fatais sobre a capacidade dos pais suportarem custos que chegam aos 600 euros.

Para lá da diversão em torno do IVA da tauromaquia, esta foi mais uma forma de apagar os contributos determinantes do PCP para que este Orçamento do Estado tenha consagrado importantes avanços, ao mesmo tempo que serviu para ocultar as limitações e o seu principal responsável: o Governo do PS.

Veja-se, como exemplo, as alterações nos impostos sobre quem mais tem. A proposta de um novo escalão na derrama estadual, para aumentar o que pagam as empresas com lucros acima de 20 milhões de euros, foi chumbada pelo PS. Passou despercebido em quase todo o noticiário da imprensa, televisões e rádios.

Em sentido inverso, foi aprovado um novo escalão no adicional ao IMI, que incide sobre quem tem património imobiliário muito elevado – por proposta do PCP. Apesar deste passo importante para uma maior justiça fiscal, as notícias caluniosas sobre uma operação de especulação imobiliária com o edifício do Centro de Trabalho da Ajuda, que só existiu nas páginas dos jornais, teve mais eco mediático.

Para esconder avanços e insuficiências, e os seus responsáveis, os média dominantes andaram de caso em caso, de polémica em polémica, sem, muitas vezes, sequer clarificarem o que verdadeiramente estava em causa. Talvez falar verdade possa fazer mais pela crise da imprensa do que qualquer intervenção, para lá do que lhe compete através do serviço público, que, mantendo o poder nas mãos do capital, ponha o Estado a pagar por esta desinformação.




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