Gato escondido

Filipe Diniz

Francesco Cossiga, um homem de direita, foi ministro do Interior, primeiro-ministro e Presidente da República Italiana. Foi uma figura central na reestruturação da polícia, da protecção civil e dos serviços secretos italianos nos anos 70 do século passado. Estava em funções quando do assassínio de Aldo Moro e do atentado terrorista em Bolonha. Esteve associado à criação do «Gládio», braço terrorista da NATO.

Teorizou com grande sinceridade sobre a acção provocadora da polícia nos anos 60 e 70: «Deixar andar. Retirar as forças de polícia das ruas e das universidades, infiltrar o movimento com agentes provocadores dispostos a tudo e deixar os manifestantes durante uma dezena de dias devastar lojas, incendiar automóveis e deixar as cidades a ferro e fogo…[depois] as forças da ordem deverão sem qualquer piedade enviar todos para o hospital. Prendê-los não, porque há muitos magistrados que os deixariam de imediato em liberdade!»

Cossiga teve o mérito de falar claro, mas não inventou nada. Desde que há movimentos de massas que a classe dominante aprendeu que a provocação é uma das melhores formas de os combater.

Vem isto a propósito de imagens que nos chegam de Paris, e que são praticamente as únicas que os media internacionais transmitem acerca das manifestações dos «coletes amarelos»: vandalismo e violência. É óbvio que um movimento tão amplo e que mobiliza camadas sociais sem experiência de luta está exposto a todas as infiltrações e provocações. O que as imagens mostram grita «provocação». Não será certamente a única mas, infelizmente para a polícia francesa, o seu currículo nessa área está mais do que documentado. É uma das vantagens da net, enquanto não estiver inteiramente censurada. E lá surge o gato CRS escondido, com o «colete amarelo» por fora




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