Quatro dias de greve na Bosch por condições melhores
EXPLORAÇÃO Por melhores condições de trabalho, contra a discriminação salarial e a pressão psicológica, trabalhadores da Bosch Car Multimédia, em Braga, estiveram em greve nos dias 24 a 27.
Com menos operadores, aumentam os ritmos de trabalho e a pressão
Os níveis de adesão foram muito elevados e provocaram a paragem da produção no parque de máquinas, onde vigora o regime de laboração contínua. Para os dias 8, 9 e 12 de Novembro, o SITE Norte convocou plenários de trabalhadores, onde será analisada a situação e os contornos do prosseguimento da luta, caso a administração não avance na resposta às reivindicações.
Como o sindicato da Fiequimetal/CGTP-IN explicou, numa nota à comunicação social, no primeiro dia de greve, o descontentamento e a indignação dos trabalhadores daquela unidade da Bosch Car Multimédia Portugal têm a ver com a falta de medidas quanto a situações que foram colocadas à administração há já algum tempo.
Os trabalhadores têm protestado, também junto das chefias, contra as consequências da retirada de operadores das máquinas, os ritmos excessivos de trabalho, a persistência de posturas ergonómicas erradas, bem como contra a pressão psicológica.
O sindicato refere que a discriminação salarial é praticada no pagamento do trabalho nocturno (entre as 20 e as 22 horas), do subsídio de turno (nuns casos a 25 por cento, noutros apenas a 10 por cento), do complemento das horas nocturnas (com acréscimo de 50 por cento, em vez de 75) e do prémio eventual (no valor de 24,99 euros, atribuído apenas a alguns trabalhadores).
A discriminação ocorre também por não serem consideradas diuturnidades na remuneração dos trabalhadores admitidos mais recentemente.
O sistema de avaliação (ADD) não deve ter implicações no cálculo da actualização do salário-base, defendem os trabalhadores e o sindicato.
O SITE Norte afirma que todos os trabalhadores são inicialmente admitidos através de empresas de trabalho temporário e só passarão para o quadro de pessoal da Bosch após um ano e se, aos olhos desta, se portarem bem, mas sempre com vínculo precário – uma situação que se prolonga, no mínimo, durante três anos.
Governo questionado
No terceiro dia de greve, a deputada Carla Cruz esteve com os trabalhadores, concentrados no exterior da fábrica, reafirmando solidariedade com a sua luta e informando que o PCP tinha acabado de entregar no Parlamento uma pergunta escrita, a interpelar o Ministério do Trabalho sobre os problemas apontados.
Como se refere na pergunta, o grupo parlamentar comunista tem vindo a colocar àquele Ministério várias questões relacionadas com as condições de trabalho na Bosch CM. Na resposta a uma pergunta apresentada em Junho (sobre a intenção da administração de maximizar os lucros à custa dos direitos, da saúde e do bem-estar dos trabalhadores, devido às alterações introduzidas nos turnos», o Governo informou que a ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho) continuaria a acompanhar o cumprimento da legislação laboral na empresa, nomeadamente quanto à organização de tempos de trabalho.
Para o PCP, aquilo para que a luta dos trabalhadores exige solução tem na origem, precisamente, «situações relacionadas com a desregulação de tempos de trabalho e sobre-exploração dos trabalhadores, desta feita no turno de laboração contínua, no parque de máquinas».
Assim sendo, o Partido questiona «qual o parecer da ACT acerca dos problemas de discriminação salarial e de ritmos de trabalho excessivos» e «que medidas pretende o Governo tomar para assegurar que os direitos dos trabalhadores da Bosch CM são integralmente respeitados».