Brasil

Pedro Guerreiro

As elei­ções no Brasil ex­pressam uma aguda luta de classes

Der­ro­tados os planos da di­reita de uma vi­tória da can­di­da­tura de Bol­so­naro no dia 7 de Ou­tubro, a se­gunda volta das elei­ções pre­si­den­ciais no Brasil – para além do de­sen­lace de ou­tros actos elei­to­rais ao nível es­ta­dual e fe­deral – co­loca aos co­mu­nistas e às ou­tras forças pro­gres­sistas e de­mo­crá­ticas bra­si­leiras um exi­gente e muito im­por­tante de­safio, cujo des­fecho terá pro­fundas re­per­cus­sões para o povo bra­si­leiro, mas também, e num se­gundo plano, para os povos da Amé­rica La­tina.

Numa si­tu­ação de pro­funda crise eco­nó­mica, so­cial e po­lí­tica, em que foi pro­mo­vida uma me­tó­dica ins­tru­men­ta­li­zação e des­cré­dito das ins­ti­tui­ções de­mo­crá­ticas, a in­se­gu­rança, a ameaça e o medo, pela qual são res­pon­sá­veis as forças e in­te­resses que exe­cu­taram o golpe em 2016, estão em con­fronto na ime­diata dis­puta das elei­ções pre­si­den­ciais bra­si­leiras – que ex­pressam a agu­di­zação da luta de classes neste país – as forças que pro­ta­go­nizam um Brasil de pro­gresso so­cial, de­mo­crá­tico, so­be­rano e as forças do re­tro­cesso so­cial, anti-de­mo­crá­ticas e anti-pa­trió­ticas que se agregam ac­tu­al­mente em torno de um can­di­dato que se as­sume como her­deiro da di­ta­dura fas­cista no Brasil.

As forças que não he­si­taram em se apoiar na ex­trema-di­reita fas­ci­zante para levar a cabo o golpe de Es­tado ins­ti­tu­ci­onal que des­ti­tuiu a le­gi­tima Pre­si­dente Dilma Rous­seff, para impor uma vi­o­lenta re­gressão nos di­reitos e avanços al­can­çados pelos tra­ba­lha­dores e povo bra­si­leiro e o saque dos re­cursos do Brasil e, fi­nal­mente, para im­pedir a can­di­da­tura de Lula da Silva à Pre­si­dência, com a sua ar­bi­trária prisão, viram-se agora pre­te­ridas pelo monstro que tanto ali­men­taram com a sua po­lí­tica re­tró­grada e sis­te­má­tica vul­ga­ri­zação de va­lores cada vez mais re­ac­ci­o­ná­rios.

Pondo a nu a re­tó­rica de­ma­gó­gica «anti-sis­tema» pro­pa­gada por Bol­so­naro, aglu­tinam-se em torno desta can­di­da­tura os in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, do grande la­ti­fúndio, do que mais re­tró­grado existe na so­ci­e­dade bra­si­leira, com o su­porte dos grandes ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial e (uma vez mais) com um vi­o­lento pro­grama de in­cre­mento da ex­plo­ração e de ataque aos di­reitos so­ciais dos tra­ba­lha­dores e povo bra­si­leiro, de ataque às li­ber­dades e à de­mo­cracia, de su­bor­di­nação ao im­pe­ri­a­lismo.

Como tem vindo a ser sa­li­en­tado no Brasil, a res­posta à ameaça fas­cista e aos in­te­resses que a animam e que a cor­po­rizam, pas­sará pela apre­sen­tação de um pro­grama que de­fenda com me­didas claras e con­cretas os di­reitos, in­te­resses e as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores e do povo bra­si­leiros, a de­mo­cracia, o de­sen­vol­vi­mento e o pro­gresso so­cial, a so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­onal, in­cluindo a re­versão das gra­vosas me­didas do go­verno de Temer. Um pro­grama de efec­tiva mu­dança que, com de­ter­mi­nação e con­fi­ança, re­abra uma pers­pec­tiva e es­pe­rança, vá ao en­contro e mo­bi­lize os tra­ba­lha­dores e am­plas ca­madas po­pu­lares em de­fesa dos seus di­reitos e pela res­posta aos pro­blemas que o Brasil en­frenta.

Hoje como sempre, o PCP está ao lado dos co­mu­nistas e de ou­tras forças pro­gres­sistas e de­mo­crá­ticas do Brasil, que con­vergem na can­di­da­tura de Fer­nando Haddad e Ma­nuela D’Ávila, na sua luta para der­rotar a ameaça fas­cista e re­tomar e apro­fundar o ca­minho de pro­gresso e so­be­rania ini­ciado em 2002 com a pri­meira vi­tória pre­si­den­cial de Lula da Silva.




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