Análise, proposta e reivindicação à porta da Cimeira do Turismo
VALORIZAÇÃO As empresas dos sectores de hotelaria e turismo acumulam lucros cada vez maiores, mas não fazem investimentos necessários e mantêm salários baixos e muito duras condições de trabalho.
As empresas não absorvem milhares de trabalhadores qualificados
No Dia Mundial do Turismo, 27 de Setembro, representantes dos trabalhadores dos diversos sub-sectores, vindos de distritos do Norte, Centro e Sul, bem como da RA da Madeira, reuniram-se durante a manhã no exterior do Teatro São Luiz, em Lisboa. Lá dentro, decorria a 4.ª Cimeira do Turismo Português, promovida pela Confederação do Turismo de Portugal, para celebrar as posições patronais com grande pompa e presença destacada de órgãos do poder.
A Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo (Fesaht/CGTP-IN) decidiu tratar na rua, com faixas, cartazes, palavras de ordem e breves intervenções, problemas que não podem ser ignorados e que, naturalmente, dizem respeito aos interesses e direitos dos trabalhadores, mas também reflectem uma abordagem do tema que considera o interesse nacional, para lá do lucro maior e mais rápido dos grupos que exploram o filão turístico.
Reunidos nas proximidades, os dirigentes e delegados sindicais e outros trabalhadores entraram em manifestação na Rua António Maria Cardoso, interrompendo o trânsito automóvel por alguns minutos. Palavras de ordem como «É justo e necessário o aumento do salário» ou «O turismo a aumentar e os salários a baixar» continuaram a ser gritadas, enquanto o protesto avançou para o passeio, mesmo frente à entrada do teatro. Ali foi depois instalada amplificação sonora, onde foram expostos motivos gerais e casos concretos que justificam a continuação da luta dos trabalhadores.
Numa resolução, de três compactas páginas, ficou registada a análise do actual momento e da evolução do sector e foram reafirmadas as reivindicações apresentadas às associações patronais e directamente às empresas. A Fesaht e os sindicatos, destacando os baixos salários, a elevada precariedade e o bloqueamento da contratação colectiva, exigem:
– cumprimento integral pelo patronato do sector dos direitos dos trabalhadores consagrados na lei e na contratação colectiva;
– melhoria geral dos salários;
– desbloqueamento da negociação da contratação colectiva;
– horários previsíveis e respeito pelas cargas horárias diárias e semanais, com folgas periodicamente ao fim-de-semana, de modo a permitir a conciliação da actividade profissional com a vida pessoal e familiar;
– combate ao trabalho precário, ao trabalho ilegal e clandestino e ao trabalho não declarado;
– revogação das normas gravosas do Código do Trabalho, com reposição do princípio do tratamento mais favorável;
– alteração do regime de estágio, para combater o trabalho forçado;
– maior investimento na qualificação e nos salários, de modo a fixar trabalhadores e melhorar a qualidade de serviço, e maior investimento nas unidades hoteleiras, para travar a degradação e assegurar a sua modernização.
A crescer
para onde?
A federação e os sindicatos da CGTP-IN, com representação e intervenção na hotelaria, turismo, restauração e bebidas e actividades similares, alertam que «o sector cresce sucessivamente há cinco anos consecutivos, com índices de crescimento nunca antes vistos, mas as empresas não fazem investimento, continuam a apostar em mão-de-obra barata e mal qualificada, mantêm as unidades hoteleiras e demais empreendimentos turísticos e de restauração degradados, com piscinas e SPA encerrados, quartos em condições muito degradadas, alcatifas em mau estado, falta de equipamentos ou com funcionamento irregular, más condições de estar para os clientes e trabalhadores».
O investimento está focado «em novas unidades hoteleiras e no alojamento local», mas estas novas empresas «mantêm o recurso a trabalhadores com baixas qualificações e continuam a pagar salários baixos e a oferecer condições de trabalho inaceitáveis».
Por outro lado, «o sector não consegue absorver o trabalho de milhares de trabalhadores qualificados que saem todos os anos das escolas hoteleiras, dos cursos de turismo das universidades e do IEFP, dos cursos de turismo das escolas de formação privadas e dos cursos do turismo ministrados pelo Ministério de Educação».