«Fake» diplomacia

Filipe Diniz

O tema Venezuela deixa o MNE desorbitado. Tal como os seus mentores políticos e ideológicos, deve considerar a pátria de Bolívar um «estado pária» em cuja vida interna é legítimo ingerir-se. Achou até, em termos inqualificáveis, que leis daquele país soberano não são para aplicar (ou seja, que é legítimo violá-las).

Imagine-se que Jorge Arreaza, o MNE venezuelano, vinha dizer coisas semelhantes do nosso país. Para não ir mais longe, por exemplo, da trapalhona lei do governo minoritário do PS sobre a limpeza dos terrenos florestais, que tantos municípios consideraram inaplicável e cujo balanço da aplicação ainda vai no adro.

Mas pior são leis que deveriam ser e não são aplicadas, a começar pela Constituição da República. Como o art.º 7.º, n.º 1: «Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios […] da igualdade entre os Estados, […] da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados […].» Ou o n.º 2 desse artigo: «Portugal preconiza a abolição do imperialismo, […] a dissolução dos blocos político-militares […].» Compare-se o texto constitucional com o texto que, no sítio web do MNE, caracteriza a «política externa portuguesa». Aí se assume que Portugal «densificou (sic) a sua presença – fundadora – na NATO», organização que projecta «segurança em todos os azimutes». E se afirma: «A pertença […] à NATO assegurou a Portugal um lugar no bloco dominante após o final da guerra fria com os parceiros com os quais partilhamos os valores fundamentais.»

Santos Silva fez um grotesco e servil esforço para agradar aos «parceiros com os quais partilha valores fundamentais». Muito provavelmente, prestou também um mau serviço à grande maioria da comunidade madeirense na Venezuela, que nada terá a ver com açambarcamento e especulação.




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