Turismo lucrativo deve valorizar o trabalho
REIVINDICAÇÃO As empresas de hotelaria e turismo apresentam há anos resultados cada vez melhores, mas os trabalhadores não têm beneficiado do assinalável crescimento do sector.
O Dia Mundial do Turismo é um dia de luta dos trabalhadores
Baixos salários, elevada precariedade e bloqueamento da contratação colectiva são os motivos principais que a Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo indicou para realizar hoje uma acção de protesto em Lisboa, junto ao Teatro São Luiz, a partir das 10 horas.
Ali decorre, durante todo o dia, a 4.ª Cimeira do Turismo Português, promovida pela Confederação do Turismo de Portugal (CTP) e que contará com intervenções do Presidente da República, do primeiro-ministro, dos ministros do Planeamento e Infra-estruturas e da Economia, da secretária de Estado do Turismo, do Comissário Europeu Carlos Moedas, bem como de presidentes de câmara e vereadores, para lá de empresários e gestores.
A iniciativa da confederação patronal coincide com o Dia Mundial do Turismo, que a Organização Mundial do Turismo assinala desde 1980, e teve a sua anterior edição em 2016. Nessa altura, a voz dos trabalhadores e dos seus representantes fez-se ouvir apenas no exterior do Museu do Oriente, pois não foram solicitados a apresentar o seu ponto de vista.
Também agora, os problemas dos trabalhadores e a opinião dos seus representantes não couberam no programa, apesar de o presidente da CTP ter considerado que o tema da cimeira (O Turismo Primeiro – Sucessos do presente. Desafios de amanhã) é «um bom ponto de partida para abrir canais de debate e encontrar linhas de diálogo eficazes».
Na saudação publicada no sítio da iniciativa, Francisco Calheiros reconhece que o turismo está «num ciclo de expansão, que a todos nos orgulha, mas que importa converter em consolidação».
Mais adiante, a organização patronal do sector refere que «em 2017, foram registados 20,6 milhões de hóspedes (mais 8,9 por cento) e, pela primeira vez, o número de estrangeiros ultrapassou o número da população nacional – Portugal recebeu 12,7 milhões de hóspedes estrangeiros».
A federação e os sindicatos da CGTP-IN têm igualmente assinalado este crescimento, reflectido na generalidade dos indicadores do sector (hóspedes, dormidas, proveitos totais, taxa de ocupação de cama, rendimento médio por quarto disponível). Mas sublinham «as condições cada vez mais miseráveis que os patrões impõem aos trabalhadores» – comofez o Sindicato da Hotelaria do Algarve, em Julho, quando um dirigente patronal se queixou de falta de mão-de-obra em quantidade e qualidade.
Neste próspero sector, «o trabalho é cada vez mais precário, os horários são cada vez mais longos e desregulados, os ritmos de trabalho tornam-se cada vez mais penosos e os direitos são cada vez mais postos em causa». O sindicato assinalou ainda que existe «uma grande rotação de trabalhadores no mesmo posto de trabalho porque se recorre cada vez mais a trabalhadores temporários, aos estágios e à prestação de serviços, prejudicando, com isso, a qualidade do serviço, embora os preços cobrados aos clientes continuem a aumentar».
Para tratar esta situação, os deputados do PCP pelo distrito do Porto (Jorge Machado, Diana Ferreira e Ângela Moreira) reuniram-se na segunda-feira com a direcção do Sindicato da Hotelaria do Norte.
Em relação ao cumprimento da lei e da contratação colectiva, um dirigente do sindicato reiterou que a Autoridade para as Condições do Trabalho não pode «andar a fazer de conta». Francisco Figueiredo, em declarações citadas pela agência Lusa, no final da reunião, defendeu que os lucros deveriam repercutir-se em investimentos necessários, quer nos recursos humanos, quer na modernização de instalações.
Jorge Machado também destacou ao Avante! a falta de investimento. Quer pela degradação dos estabelecimentos, quer pela opção de contratar pessoal menos qualificado, o destino que os patrões dão aos lucros não provoca apenas uma ainda mais desigual distribuição da riqueza, como acaba por prejudicar a qualidade do serviço.
O deputado comunista observou ainda que o alojamento local, apesar do grande crescimento, sobretudo nas grandes cidades, não tem um impacto significativo na criação de emprego. «O turismo massificado não cria riqueza para a população nem para os trabalhadores», salientou, lembrando que o PCP tem propostas para fazer face às consequências negativas deste fenómeno.
Greve na Ibersol
A greve nas empresas do Grupo Ibersol na região Norte, no dia 21, sexta-feira, teve grande impacto na Pizza-Hut, interrompendo a distribuição de refeições em algumas zonas e concelhos. O sindicato, numa informação publicada pela CGTP-IN, refere que houve adesão total dos distribuidores em várias lojas daquela marca, enquanto noutros serviços do maior grupo da restauração o nível de adesão variou entre 60 e 100 por cento. Alguns estabelecimentos só funcionaram porque os trabalhadores em greve foram ilegalmente substituídos, protestou o sindicato.
Um numeroso grupo de distribuidores da Pizza-Hut reuniu-se junto da sede do sindicato. Daqui seguiram em desfile, nas motos, até à sede da empresa, onde foi aprovada e entregue uma moção, contendo 15 reivindicações, entre as quais a melhoria das remunerações, progressão na carreira, justa classificação profissional e respectivo pagamento, correcção da injustiça nos prémios por entrega, normalização dos horários de trabalho e das folgas, passagem a efectivos dos trabalhadores com funções permanentes.
A direcção regional do PCP fez-se representar na concentração, solidarizando-se com a luta dos trabalhadores.