Inovações

Anabela Fino

É oficial e traz a chancela do Expresso: o partido que Santana Lopes está a formar, «personalista, liberalista e solidário», «europeísta, mas sem dogmas», «conservador e não subjugável à agenda da extrema-esquerda», chamar-se-á «Aliança», nome que obviamente nada tem a ver com a Aliança Democrática (AD) criada em 1979 por Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles e que viria a morrer de morte matada quatro anos depois devido ao desentendimento dos seus progenitores...

Histórias da história da direita portuguesa que não vêm ao caso, segundo Santana, preocupado em transmitir uma mensagem de união – «viemos para construir e para unir, na política e no País» – a quantos o vão acusando de estar numa de dividir para reinar. Sacudindo as más línguas como quem sacode água do capote, Santana, com a modéstia que o caracteriza, garante que a «Aliança vai provocar a modernização acelerada de todos os partidos», ao que parece por ir assentar arraiais no ciber espaço, ou seja nas plataformas digitais, decretando a reforma das velhas sedes partidárias, das reuniões de militantes, dos debates ao vivo e a cores. O que está a dar são os smartphones, os MP3/MP4/MP5, os iPod, as APP e o que mais adiante se verá, através das quais Santana espera receber «propostas, avaliações, criar um espaço de crowdfunding e de debate». Para quem não domina a termonologia, esclarece-se que crowdfunding consiste na obtenção de capital (pilim, dinheiro, carcanhol, guita...) através da agregação de múltiplas fontes de financiamento.

Até prova em contrário, as inovações do progenitor da Aliança parecem no entanto esgotar-se na liquidação física dos espaços partidários. Que a União Europeia precisa de ser reformada (olha a novidade!); que tem preocupações com a cultura (a pedra no sapato de Santana), a inovação e o mar (onde é que já se ouviu isso?); o (inevitável) «imperativo absoluto» do combate à desertificação e abandono de território; e claro o reforço do papel do Estado na Segurança e na Justiça (que no mais não faz falta e até sobra).

De acordo com a declaração de princípios citada pelo Expresso, a substância da coisa só deixa cair o véu dos lugares comuns no respeitante à Segurança Social e à Saúde. E para propor o quê? Surpresa! «Esquemas de Previdência alternativas e individualizados» e «investimento em seguros de saúde eficazes» com o Estado a apoiar através de «deduções fiscais efectivas». Naturalmente.

A novidade é tanta que o recém-formado partido Iniciativa Liberal (IL) veio a público dizer que «por coincidência ou não» até «parece» ter havido plágio do seu programa partidário.

A verdade verdadeira é que as inovações da Aliança e do IL já eram velhas quando Santana Lopes era novo.




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