A Grécia e as virgens ofendidas

Ângelo Alves

Em Abril de 2010 o povo grego foi arrastado à força, pela «pressão» dos «mercados», do FMI e da União Europeia, e pela mão do PASOK e depois do SYRIZA, para a tragédia da Troika. Irlanda e Portugal foram as vítimas seguintes. Na Assembleia da República, PCP e PEV foram os únicos partidos a votar contra o mal dito «empréstimo» à Grécia.

O «programa» termina agora, formalmente. À semelhança do caso irlandês e português, a União Europeia lança mais uma campanha de «saída limpa». Os rastros de desrespeito pela soberania e de destruição económica e social deixado por estes pactos de agressão e pelas suas políticas (transpostas, entretanto para as «regras» da UE e do Euro) falam por si. Aliás, é um embuste falar de «saída» quando Portugal e Grécia, entre outros, continuam sujeitos a chantagens, pressões, ingerências e constrangimentos, agora travestidos de outras roupagens.

Os carrascos do povo grego falam de sucesso. E de facto existe sucesso: da banca, sobretudo alemã, que lucrou e continuará a lucrar, muito, com tais «empréstimos»; das grandes multinacionais que se apropriaram dos sectores estratégicos e de serviços públicos; do grande patronato, que viu as legislações laborais destes países destruírem direitos básicos dos trabalhadores; do grande capital que sugou as reformas, os salários e os apoios sociais para continuar a garantir os seus chorudos lucros.

Mas o sucesso deles foi a desgraça dos povos que ainda hoje se faz sentir. A mensagem de Mário Centeno e de outros responsáveis da UE é um insulto, um acto de cinismo. Mas não espanta, faz parte da propaganda a que a União Europeia já nos habituou e decorre da sua natureza de classe. O que espanta é que alguns que nem um pio disseram na altura, que apoiaram aquele pacto de agressão e que continuam a apoiar as políticas da União Europeia, venham agora insurgir-se, quais virgens ofendidas, contra o teor dessas mensagens. Dá jeito, para enganar memórias menos atentas.




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