Migrantes e fascismo

Ângelo Alves

A política do imperialismo é criminosa e mesquinha

Ao momento da redacção deste artigo o drama humanitário vivido pelos refugiados e migrantes do Lifeline poderá estar parcialmente resolvido. Um drama que foi testemunhado in loco pelo deputado do PCP no Parlamento Europeu, João Pimenta Lopes, que ali foi levar a solidariedade dos comunistas portugueses. Mas o drama dos refugiados do Lifeline está longe de ser caso isolado e de chegar ao fim. É positivo ter-se encontrado uma solução, apesar de tardia. Mas este foi apenas um caso mais. São mais de mil os seres humanos que, segundo a ACNUR (Agência das Nações Unidas para os refugiados), morreram afogados no Mediterrâneo desde Janeiro até hoje. Em 2017 foram 3115 e em 2016 foram 4962. Mas o Mediterrâneo não é o único local onde morrem milhares de pessoas que fogem dos conflitos, da fome e da pobreza. Desde 2014 poderão ter morrido mais de 30.000 pessoas no deserto do Saara a quem foi negado asilo em países da bacia sul do mediterrâneo.

Segundo a ACNUR a cada dois segundos uma pessoa é forçada a sair do local onde habita por razões de violência ou perseguição. Estima-se que os deslocados forçados sejam hoje 68,5 milhões em todo o Mundo. Destes, 28,5 milhões são refugiados ou requerentes de asilo, os outros, 40 milhões, são deslocados internos. Todos fogem da guerra, da fome e de violências várias. Aqueles que não têm outra opção senão sair do seu País, arriscam na maioria dos casos a vida. São alvos fáceis da extorsão, das redes de crime organizadas, de todo um conjunto de desumanidades como a de serem deixados no «ponto zero» do deserto do Saara e lhes ser indicada a direcção do Níger. A frase de um refugiado a bordo do Lifeline diz tudo sobre a condição e as condições a que estes seres humanos são sujeitos: «prefiro morrer no Mediterrâneo que voltar para a Líbia».

Mais de dois terços dos refugiados são oriundos de apenas cinco países – Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Myanmar e Somália – todos eles alvos de guerras ou ingerências levadas a cabo, directa ou indirectamente, pelas principais potências imperialistas. Muitos dos outros são de diversos países africanos, continente percorrido por vários fluxos de refugiados e migrantes, externos, internos e intra-africanos. A esmagadora maioria dos refugiados não vai para os países mais desenvolvidos, pelo contrário, 85% dos refugiados são acolhidos em países em desenvolvimento. Os cinco países com maior população de refugiados são: Turquia, Paquistão, Uganda, Líbano e Irão. Entre os 10 países com maior população de refugiados do Mundo figuram 4 dos países menos desenvolvidos do Mundo – Uganda, Sudão, Etiópia e Bangladesh.

Estes dados e números ajudam a compreender o quão criminosa e mesquinha é a política do imperialismo. Os migrantes e refugiados são vítimas duplas de um capitalismo explorador, violento, desumano e predador. Aqueles que mais responsabilidades têm nesta marca do capitalismo do Séc. XXI são os mesmos que das causas não querem nem ouvir falar e que «discutem» repugnantes políticas sobre como «conter» o fluxo de uma muito pequena parte das suas vítimas e como «exportar» esse «problema» para fora das suas limpas e arianas fronteiras. Esta é uma das melhores demonstrações de como o fascismo é produto do capitalismo. Trump e Salvini são apenas dois exemplos…




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