A catástrofe
A crise capitalista de 2007/2008 – conhecida como do subprime,que levou o recém-eleito presidente Obama a injectar 700 mil milhões de dólares, de imediato, no sector financeiro norte-americano em colapso - é a origem da crise que se aprofunda e se arrasta há uma década (e é apenas mais uma, no ciclo constante definido por Marx).
Na «globalização» a crise do subprime alastrou como mancha de azeite pela Europa e o mundo capitalista, com economias aprisionadas na especulação bolsista e financeira desenfreadas. A consequência seguiu o exemplo de Obama, ao dar ao sector financeiro 700 mil milhões de dólares do povo norte-americano: os «governos da União Europeia» trataram de pôr os seus povos a pagar os gigantescos crimes económicos do mundo financeiro, o que em Portugal conduziu às falências sucessivas de cinco bancos e o respectivo «resgate» de 14 mil milhões de euros cobrados aos portugueses.
Na União Europeia, dominada pela Alemanha e pelo Partido Popular Europeu (PPE), a crise foi combatida ao estilo neoconservador, impondo as ditaduras dos défices que têm esportulado aos «países do Sul» muitas dezenas de milhares de milhões de euros em juros de dívidas impagáveis, juros entrando directamente nos cofres da Alemanha e dos parceiros nos «empréstimos». O preço é dramático e conhecido, no nosso País: desarticulação dos serviços sociais do Estado (Saúde, Educação, Segurança Social) através da escassez de recursos financeiros, humanos e materiais, a par de uma carga fiscal que é das maiores da UE e da OCDE e ataques ferozes aos direitos adquiridos com a Revolução de Abril.
Manietada pelo neoconservadorismo que impera sob batuta do PPE, a União Europeia palmilha uma espécie de crónica de morte anunciada. A política constritora dos direitos dos trabalhadores e dos cidadãos europeus, que há uma década aperta em crescendo o quotidiano, abriu caminho às demagogias da extrema-direita, que cavalgam o descontentamento das populações.
Isto a par da absorção da ideologia neoliberal pelos partidos sociais-democratas, o que os menorizou na luta eleitoral que define o poder nas democracias burguesas, a que se soma a crise dos imigrantes do Médio Oriente, escorraçados das suas pátrias pelas guerras promovidas pelos EUA e pelas potências militares da UE no Afeganistão, Líbia, Síria, Iraque ou a massacrada Palestina.
Estes dois factores conjugados têm perpetuado o PPE na governação da UE, o que não augura nada de bom para o futuro, dada a reiterada incapacidade de quem nela manda para arrepiar caminho, abandonar a ganância de enriquecer à custa de dívidas nacionais impagáveis e de esmagar povos e países com dívidas e imposições.
Será a luta dos trabalhadores – e apenas ela – que enfrentará a catástrofe que se aproxima.