Para que nunca mais

Margarida Botelho

A re­tenção de imi­grantes em campos de de­tenção nos EUA e, par­ti­cu­lar­mente, a de­tenção de cri­anças se­pa­radas dos pais, foi a no­tícia que mais in­dignou o mundo na se­mana pas­sada. A cru­el­dade das his­tó­rias di­vul­gadas, a de­su­ma­ni­dade do tra­ta­mento a cri­anças de todas as idades, a quan­ti­dade de seres hu­manos en­vol­vidos, tudo im­pres­siona, choca e in­digna.

É, como muito bem es­creveu o PCP, «um acto bár­baro», «a ex­pressão con­creta de uma po­lí­tica xe­nó­foba e ra­cista» que não é ex­clu­siva desta ad­mi­nis­tração Trump, antes uma prá­tica de anos. Tem agora mais di­mensão e gra­vi­dade, ga­nhou mais vi­si­bi­li­dade, em re­sul­tado da cha­mada «to­le­rância zero», in­te­grada numa po­lí­tica de imi­gração ex­plo­ra­dora, dis­cri­mi­na­tória e de­su­mana, como de resto se vê em tantas ou­tras ex­pres­sões da so­ci­e­dade norte-ame­ri­cana.

O drama destes me­ninos e dos seus pais não é in­fe­liz­mente único no mundo. A de­su­ma­ni­dade com que a União Eu­ro­peia trata re­fu­gi­ados e mi­grantes tem di­a­ri­a­mente um li­belo acu­sa­tório nos mi­lhares de pes­soas que tentam cruzar o Me­di­ter­râneo. Quem não se lembra da fo­to­grafia do me­nino morto numa praia, ví­tima de um nau­frágio? E o que dizer dos mi­lhares de me­nores pa­les­ti­anos presos nas bru­tais ca­deias is­ra­e­litas?

Falar dos casos de ter­rí­veis so­fri­mentos de ou­tras cri­anças e das suas fa­mí­lias pelo mundo fora não pre­tende di­mi­nuir em nada a co­moção que sen­timos quando sou­bemos o que se passa nos EUA. Pre­tende, pelo con­trário, au­mentá-la: é que não se trata de um caso iso­lado, re­sul­tado de uma cam­bada de loucos. É o ca­pi­ta­lismo, é o im­pe­ri­a­lismo, na sua face mais brutal e re­vol­tante. A nossa luta contra a ex­plo­ração também se faz a pensar nestas cri­anças, também se faz para cons­truir um mundo onde nunca mais isto acon­teça. As ac­ções pro­mo­vidas em Lisboa e no Porto e a 9 e a 12 de Julho pela paz são um mo­mento ime­diato para essa luta.

 



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