Escombros em vez da estrada
Em Roncão, no interior rural do concelho de Santiago do Cacém, há elementos que resultam da intervenção humana que perturbam a pacatez do lugar e a vida de quem lá reside. Infelizmente, não são vestígios megalíticos ou arqueológicos – que esses certamente seriam ali bem-vindos e valorizariam o lugar.
São escombros, ruínas e feridas abertas na paisagem ao longo de um traçado contínuo que rasgou cabeços e aplainou o solo, onde giestas e matos voltaram a crescer. Da estrada, no meio do matagal, avista-se um conjunto de blocos de cimento armado, sinais de ferrugem em baba, escorrendo, ferro à vista nos topos. É uma obra de arte inacabada como outras, garantem-nos, que podem observar-se ao longo de uma linha contínua que se estende dali até Vila Verde de Ficalho.
Um cenário que se repete ao longo dos cerca de 80 km onde deveria assentar aquele que foi baptizado de IP8, obra lançada em 2009 e que, já em fase de construção, paralisou totalmente em 2011 por ordem do anterior governo PSD/CDS. Em Roncão, onde deveria situar-se o nó de junção do IC 33 ao IP8, que passaria assim a ligar os dois eixos e a fazer a ligação directa de Sines a Beja, o que está à vista não é outra coisa que não um exemplo terrível de gestão danosa dos recursos públicos – fala-se que foram gastos 38 milhões de euros –, de negligência na salvaguarda do bem comum.
A obra não só não foi concluída como não houve reposição dos acessos alcatroados que existiam e que foram destruídos no decurso dos trabalhos entretanto executados, com evidentes e graves prejuízos para as pessoas.
Não admira, pois, que o sentimento prevalecente entre os moradores seja de indignação e revolta. Foi isso que deputados comunistas e jornalistas puderam testemunhar naquele local da freguesia de S. Francisco, expresso, por exemplo, no relato de um dos presentes, Cândido Matos Gago, que de mapa na mão com o traçado da via não escondeu o seu inconformismo por nem a obra ter avançado nem as acessibilidades destruídas pelo empreiteiro terem sido repostas. Pelo meio, lamentou, «ficaram propriedades divididas, sem acessibilidades, obras de arte por acabar, uma paisagem lunar, de pós guerra».
Daí que a população queira ver concluído o IP8, exigência a que o PCP deu voz nas Jornadas assumindo o compromisso de apresentar na AR uma iniciativa com esse objectivo.