Todos iguais?

João Frazão

A propósito das notícias que têm vindo a público sobre casos de corrupção na vida nacional, montou-se uma linha de debate e argumentação que visa, entre outros, dois objectivos.

Em primeiro lugar, afirmar que são todos iguais, que os políticos, seja lá de que partido forem, estão, à partida, envolvidos em casos reprováveis, que são suspeitos da prática de um qualquer crime, com o único e exclusivo propósito de envolver nesse lodaçal aqueles que não só nada têm a ver com ele, como, desde sempre, apresentaram propostas para o prevenir.

Não foi por acaso que quando o PCP avançou com propostas diversas, das quais a última foi a definição do enriquecimento injustificado (apresentada e chumbada três vezes e de novo reapresentada), assobiaram para o lado, fizeram de conta que não viram e não se indignaram com o seu chumbo.

Mas elas visam também absolver os corruptores, sempre a coberto desse remanso colectivo em que quem precisa safa-se, procurando esconder as promiscuidades imensas, ou melhor a subordinação, de facto, do poder político ao poder económico. Assim se procura afastar as responsabilidades da política de direita (por definição ao serviço dos interesses e da gula do capital) e iludir que estes casos estão directamente ligados com as opções de entrega do património nacional aos grupos económicos e financeiros, tão evidente no processo de privatizações, das PPP, das rendas garantidas nos diversos sectores, e a autêntica plataforma giratória em que se transformaram sucessivos governos, que os agora paladinos da transparência nunca questionaram.

Visam, de facto, absolver o sistema que origina a corrupção, pois do que se trata aqui é da a natureza criminosa do capitalismo.

Os que, de forma determinada, se lhe opõem, são naturalmente avessos a tais práticas.

 



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