A complacência que dispensamos
Confesso que hesitei se dedicaria estas linhas a dois dos mais recentes artigos que Henrique Raposo publicou no Expresso, ou ao editorial do Público, assinado por Amílcar Correia, de 2 de Abril. Em ambos os casos assistimos a exercícios do mais primário anti-comunismo, bem ao gosto dos chamados critérios editoriais dos respectivos jornais.
Henrique Raposo há dez anos que escreve contra o PCP no Expresso, e a frequência com que o faz, quase que me levaria a suspeitar que estaríamos perante alguma cláusula contratual, não fosse a indisfarçável fascização do seu pensamento que o faz dizer barbaridades como a inaceitável «complacência da imprensa» para com um Partido que, segundo o próprio, «define-se pelo ódio». Tudo isto porque os comunistas se recusaram a embarcar na perigosa escalada de confrontação que está em curso entre as principais potenciais imperialistas e a Federação Russa, a pretexto de um suposto envenenamento, de um suposto espião, com uma suposta substância, supostamente fabricada na ex-URSS, suposições que sempre se sobrepuseram, às provas e evidências com que querem legitimar a tal escalada.
No caso do Público, o ataque ao Partido, desta vez, veio pelo lado do preconceito: «Assim se vê o conservadorismo do PCP», dizem! Conservadorismo que contrasta com a modernidade de todos os outros partidos que se preparam para elevar ainda mais a ingerência na elaboração das listas eleitorais (tema do editorial) elevando as famosas «quotas» mínimas de género para 40%. Conservadorismo que, curiosamente, o Público nunca encontrou no percurso que esses mesmos partidos estão a fazer para legalizar a prostituição e o proxenetismo, transformando a mulher numa mercadoria e a violência sobre as mulheres em «trabalho sexual».
Para o Público, para o Expresso, é difícil de aceitar que possa existir um Partido cuja agenda não se confunde, nem se insere na das classes dominantes. E quando faltam argumentos, sobra o insulto.