O discurso hipócrita dos partidos do despovoamento
O que a tragédia dos incêndios florestais pôs a nu foram as vulnerabilidades estruturais do País provocadas pela política de direita, com efeitos devastadores no mundo rural e na floresta, visíveis em planos como o ordenamento do território, na demografia, nas infra-estruturas e serviços públicos.
«Uma floresta semeada pelo despovoamento, pela desertificação económica em muitas áreas e regiões, pelo desmantelamento das estruturas do Estado para a floresta, a agricultura e o mundo rural, que se traduzem em inevitáveis assimetrias regionais», sintetizou o deputado comunista João Dias, traçando um quadro dessa realidade presente no território e que em sua opinião o Relatório da CTI retrata, «por mais voltas que PS, PSD e CDS lhe queiram dar, por mais leituras enviesadas que queiram fazer».
Realidade essa de um País assimétrico, com o seu mundo rural despovoado, que considerou inseparável desses anos a fio de política de direita, conduzida por sucessivos governos do PS, do PSD e do CDS, dos «partidos do despovoamento do mundo rural», como os apelidou e a quem acusou de terem uma «postura e um discurso manipulador», de fingirem preocupação pelas desigualdades territoriais para dessa forma fugirem ao apuramento das causas e «disfarçarem as suas responsabilidades».
Só que estas, como tratou de demonstrar João Dias, estão escritas na pedra. E apontando o dedo a PS, PSD e CDS, lembrou que foram estes os «responsáveis pelas consequências da PAC», pelas políticas de encerramento de escolas e de unidades de saúde, pelo fecho de postos e de estações dos CTT, de delegações da EDP ou do Banco de Portugal, de agências bancárias. Mas também pelas dificuldades de acessibilidade no interior, com o desmantelar de centenas de quilómetros de linhas férreas, sem falar no encerramento de serviços públicos, ou das «políticas orçamentais restritivas a que o Pacto de Estabilidade obriga, produzindo orçamentos do Estado que aumentam as desigualdades».
Daí que, para o PCP, falar em defesa da floresta e do mundo rural, para lá do seu ordenamento e da aposta na valorização da produção nacional, implique obrigatoriamente falar na «melhoria dos rendimentos para os proprietários», na criação de emprego, em serviços públicos de qualidade, em investimento público, em preços justos à produção agrícola e florestal.
Mais, segundo João Dias, exige o «escoamento a preços justos da produção dos pequenos produtores», uma outra político agro-florestal», «uma PAC compatível com a agricultura familiar e o mundo rural do minifúndio», em suma, um «efectivo desenvolvimento regional com investimento na actividade agrícola e florestal».