De classe. Naturalmente
Já aqui dissemos que o Ministério da Agricultura prossegue uma linha de anúncio sucessivo de milhões, referindo-os vezes sem conta, como se daí resultasse a resolução imediata dos problemas da agricultura nacional, e particularmente da pequena e média agricultura, contribuindo para a consolidação da ideia de que neste sector se anda sempre de chapéu na mão, queixando-se de barriga cheia.
Tais anúncios são, a mais das vezes, usados exactamente em sentido contrário, ou seja, para justificar que não se garanta as respostas a problemas reais ou não se intervenha no sentido de contrariar desequilíbrios brutais que persistem, pelas opções da política de direita.
Foi isto particularmente visível na reacção do Governo face ao justo protesto de pequenos agricultores e produtores florestais atingidos pelos incêndios de Outubro passado.
Os manifestantes, a quem o incêndio levou quase tudo, reclamavam apoios técnicos que o Ministério não tem garantido pelo seu próprio esvaziamento; alargamento dos valores das candidaturas simplificadas, que vão apenas até 5000 euros, para impedir que muitos abandonem as produções; novos períodos de candidaturas para permitir que todos os que não conseguiram fazê-lo na primeira fase tenham ainda essa oportunidade.
Do lado do Governo, a resposta veio em jeito de vitimização, com o ministro a afirmar que a acção representaria apenas uma acção política que não tem em conta o esforço que está a ser feito, que inclui já a distribuição de cerca de 40 milhões de euros, e, portanto, sem manifestar qualquer abertura para responder às reivindicações.
Contraditoriamente, ou talvez não, o Governo, dias depois, anuncia a duplicação do tecto máximo dos apoios de 400 mil para 800 mil euros, ao que se sabe, para responder a cinco casos que ultrapassavam o tecto inicial.
Ou seja. De uma penada, o Governo quis manifestar que para os pequenos continua a haver só tostões, mas para os grandes não faltarão os milhões.
Lá terá as suas razões. De classe. Naturalmente.