A monocultura
Qualquer modelo económico assente na monocultura cria uma dependência extrema e é perigoso. Da mesma forma que qualquer modelo económico baseado na utilização intensiva do solo e dos recursos naturais arrisca a capacidade produtiva futura. Não é difícil perceber porquê.
Mas no capitalismo os capitais correm, atropelam-se, quando encontram uma determinada actividade que gera elevadas taxas de lucro. Ficam cegos, sem nada mais ver do que a taxa de rentabilidade, nuns casos imediata, noutros a cinco, dez, ou 15 anos.
Lisboa está sobre um autêntico ataque. Os seus efeitos podem ser similares, a médio prazo, aos provocados por um ataque militar. Largos milhões de euros, nas mãos de umas dúzias de promotores, querem ser aplicados e rentabilizados à custa da cidade. O poder político, comprado ou submetido, transfere para esses capitalistas estações de comboio, edifícios públicos e históricos, promove a precariedade e os baixos salários, facilita todos os seus projectos e admite todas as possibilidades: arrancar linhas de comboio (neste momento estão a estudar a eliminação da Linha de Cascais e da ferrovia entre Santa Apolónia e Braço de Prata), desmantelar o porto (estão a trabalhar para eliminar todos os terminais na margem Norte, menos Alcântara por agora), desviar investimentos estratégicos (o projecto da Linha Circular no Metro é isso mesmo).
O capitalismo é o caos, e quanto mais livre, quanto mais o seu funcionamento for só determinado pela procura do maior lucro, maior é o caos. Um caos onde a riqueza pode ser criada e acumulada sem com isso gerar qualquer desenvolvimento, ou até mesmo provocando o subdesenvolvimento.
É fácil concluir pela necessidade de um poder político que não se submeta, que limite a liberdade do capital, que crie oportunidades de investimento mas com regras. Mais difícil é não nos esquecermos que isso só transitória e conjunturalmente é possível, pois as contradições do sistema só se resolvem na superação do sistema.