Greve nos CTT focou atenção no destino do serviço público
PRIVATIZAÇÃO A greve nos CTT teve uma adesão média de 70 por cento, segundo o SNTCT, que considerou atingido o principal objectivo da luta, com o debate desencadeado sobre o serviço postal e a empresa.
A luta dos trabalhadores é também em defesa do interesse nacional
No tratamento e distribuição de correspondência, a adesão à greve de 21 e 22 de Dezembro foi superior, como relatou o Secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT) no último dia da luta. Victor Narciso, citado pela agência Lusa, disse que «tivemos uma adesão muito boa, mas o principal objectivo da paralisação já foi conseguido, pois o futuro do serviço prestado pelos Correios tem sido discutido nos últimos dias e já fomos ouvidos na Assembleia da República».
Quanto aos efeitos da greve, nos dois dias anteriores ao fim-de-semana do Natal, admitiu que possam não ser muito visíveis. «Já ninguém nota os efeitos de dois dias de greve, pois o atraso na distribuição de correspondência é permanente», comentou o dirigente.
Destruição premeditada?
O sindicato da Fectrans/CGTP-IN considerou como «manobra claramente intimidatória» o anúncio pelos CTT de um «plano de contingência» que prevê o encerramento de mais estações e postos de Correios e a redução de mais 600 a 700 trabalhadores, nos próximos três anos, com especial incidência em 2019 e 2020. Num comunicado que emitiu após a reunião que a comissão executiva (CE) da administração convocou para as 18 horas de dia 19, terça-feira, o SNTCT afirmou que esta «continua preocupada com os bolsos dos accionistas e, como tal, tudo fará para os alimentar à custa dos trabalhadores e da qualidade do serviço».
Uma vez que o número de trabalhadores já está «reduzido ao mínimo dos mínimos» e que a administração pretende que a nova redução seja feita por acréscimo às saídas por aposentações, reformas e outras, o sindicato colocou interrogações quanto à forma como vão ser assegurados o serviço postal universal (SPU), o atendimento nos balcões, a distribuição... O SNTCT aventa mesmo que «a CE dos CTT está a destruir cirurgicamente a empresa e a qualidade do serviço para, chegado 2020, perder deliberadamente a licença do SPU e, assim, ficar com a marca CTT, o banco CTT, o que restar do património» e, deixando sem serviço os trabalhadores que resistirem, «poder despedi-los colectivamente».
A propósito do debate de dia 15, na Assembleia da República, o sindicato «lamenta que só agora, passado quase um ano sobre a data em que levantou uma série de questões relativamente ao caminho seguido pela gestão dos CTT» (culminando numa audição em comissão parlamentar, a 18 de Janeiro de 2017)), «o poder político tenha finalmente tomado consciência da destruição a que os CTT e o serviço público postal estão a ser sujeitos».
PCP reafirma compromisso
«Da parte do PCP, que há precisamente um ano confrontou o Governo, pela voz do seu Secretário-geral, sobre a degradação dos Correios, a defesa dos CTT não é um episódio na sua intervenção, é um compromisso que prosseguirá e que se assume também na solidariedade com a luta dos trabalhadores, que hoje estão em greve, e com a luta dos utentes», afirma-se numa nota difundida dia 21 pelo Gabinete de Imprensa do Partido, sob o título «É tempo de libertar os CTT da ruinosa gestão privada». Para o PCP, esta é «uma luta que deve ser intensificada».
Acerca do plano anunciado pela administração dos CTT, o PCP considera que «estamos a assistir ao aprofundar do caminho desastroso aberto com a privatização dos CTT, com os grupos económicos que hoje controlam a empresa a descapitalizá-la, a alienar património, a degradar o serviço a níveis escandalosos». Este caminho «já implicou: um aumento de 47% na tarifa do correio normal desde a privatização; que entre 2009 e 2016 tenham encerrado 564 estações e postos de Correios; que largas centenas de postos de trabalho tenham já sido destruídos; que o correio demore hoje mais tempo a chegar ao destino do que demorava há 30 anos; que património tenha sido vendido para suportar o pagamento de dividendos, como aconteceu esta semana com a venda do palácio na Rua de São José por 23 milhões de euros, permitindo pagar dividendos muito acima do resultado líquido da empresa».
«O problema dos CTT está na incompatibilidade entre o papel estratégico do serviço público que está obrigado a prestar e o objectivo único dos grupos económicos: os seus lucros», salienta-se na nota, alertando que «o Governo não pode mostrar desconhecimento sobre a dimensão desta ofensiva, como fez o primeiro-ministro no debate quinzenal na Assembleia da República».
Na AR, dia 15, foi reprovada por PS, PSD e CDS uma proposta do PCP visando a recuperação do controlo público dos CTT. Com os votos de PS, PCP e BE, a AR limitou-se a mandatar o Governo para fazer uma «avaliação e estudo das opções quanto ao contrato de concessão» e das «alternativas, de outra natureza, que se colocam», salientando agora o PCP que tal avaliação «terá de ser urgente e abrangente, incluindo sobre a natureza da propriedade dos CTT». Para o Partido, «não basta o resgate da concessão do serviço público», porque «o Estado não pode prescindir da empresa para garantir o serviço público».