Sobram bancos e faltam Correios públicos

Manuel Gouveia

Importa ter presente o ponto de partida: os CTT eram uma empresa pública que assegurava um excelente serviço postal público e universal à população, com padrões de qualidade que a (nos) colocavam no topo mundial e ainda assegurava um superavit anual que entregava ao Estado.

Os CTT foram privatizados, o serviço degradou-se, os preços aumentaram, centenas de estações foram encerradas, e em muitos locais o que antes demorava 24 horas a chegar, hoje tarda dias ou mesmo semanas.

E se nada for feito, a coisa vai piorar. Os patrões dos CTT estão a despedir trabalhadores, preparam o encerramento de mais estações, a entrega de sectores crescentes da operação a prestadores de serviços e dão prioridade à criação de um Banco, tendo como projecto cada vez mais claro «libertar-se» das obrigações com o serviço público universal a que estão obrigados pelo contrato de concessão em vigor até 2020.

Ao «libertarem-se» destas obrigações, «libertar-se-iam» de mais um conjunto significativo de trabalhadores, colocando os correios a funcionar de acordo com o «mercado», com a procura solvente. E muitas populações acabariam sem serviço de correios a não ser que o Estado (o central ou o local em mais uma criativa «descentralização») pagasse «os custos do serviço público».

No dia 15 de Dezembro esta questão estará em debate no Parlamento, onde ainda só o PCP e os Verdes propõem a reversão da privatização dos CTT. Onde, como é natural, PSD/CDS fingem ignorar as consequências da privatização, enquanto o BE e o PS as reconhecem, mas um deles (o BE) chega ao ponto de propor «o resgate da concessão do serviço público dos Correios e da sua rede pública aos CTT», e o outro (o PS) fala da necessidade de estudar as «consequências resultantes da conclusão do contrato de concessão».

Só a luta dos trabalhadores poderá criar as condições para que uma maioria da Assembleia da República possa – o mais cedo possível – impor a reversão de mais uma desastrosa privatização.




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