O eixo e a luta

Ângelo Alves

As eleições alemãs traduzem, a exemplo das eleições em França, uma acentuada erosão eleitoral dos partidos que ao longo das últimas décadas têm sido responsáveis pela governação e pela condução do processo de integração capitalista na Europa.

Os dois grandes partidos alemães da direita e da social-democracia, que no último mandato tiveram, juntos e pela quarta vez, responsabilidades governativas, sofrem pesadas perdas e registam votações historicamente baixas. A social-democracia alemã, um dos pilares ideológicos do imperialismo na Europa, é, à semelhança do que sucedeu nas eleições francesas, reduzida quase a escombros, tendo o SPD registado o seu mais baixo resultado de sempre em eleições no pós-guerra.

As eleições alemãs deitam por terra o mito que se tentou construir de que na Alemanha tudo ia bem. É nas regiões mais marcadas pelas crescentes desigualdades, pela precariedade galopante e onde se sentiram mais os violentos ataques aos direitos de quem trabalha que se regista as maiores perdas dos partidos da «grande coligação» e é aí que a extrema-direita cresce. A única boa notícia nas eleições alemãs é o ligeiro crescimento eleitoral do Die Linke

A grande pergunta que se coloca com as eleições alemãs é se alguma coisa vai mudar na Alemanha. Uma das respostas vem de França. Macron, a solução do grande capital francês e europeu para a hecatombe dos partidos da direita e social-democracia, já demonstrou ao que vem, e a sua reaccionária reforma laboral fala por si. O seu discurso, na terça-feira, sobre o futuro da União Europeia, demonstra que Macron personifica o que de mais velho e caduco existe na Europa. Passadas as eleições, e com uma possível solução de governo na Alemanha ainda mais reaccionária, tudo indica que o eixo franco-alemão tentará novas fugas em frente impondo uma mais acentuada deriva neoliberal, federalista, reaccionária e militarista da União Europeia. Será a nossa luta que lhe fará frente.




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