Espiral agressiva

Luís Carapinha

Não é por acaso que o peso dos generais do Pentágono se reforçou consideravelmente na Casa Branca

No pano de fundo da crise do capitalismo, a escalada de tensões na cena internacional não pode deixar de ser levada a sério. A temperatura continua perigosamente a subir, com os EUA apostados em cavalgar crescentes contradições e impasses internos, vertendo mais gasolina na fogueira da desestabilização e desordem mundial em prol de uma hegemonia que se vai esgotando. Não é por acaso que o peso dos generais do Pentágono se reforçou consideravelmente na Casa Branca, que há uns meses remeteu ao Congresso uma proposta de orçamento que contempla um brutal aumento das despesas militares.

Dia 2, apesar das reticências, Trump assinou o novo decreto que impõe novas sanções à Coreia do Norte (RPDC), Irão e a Rússia. Analistas em Moscovo referem que a decisão de Washington equivale a uma declaração de guerra económica em grande escala contra a Rússia e o primeiro-ministro Medvedev advertiu que a política de sanções prosseguirá durante décadas. Sinal a reter, a Alemanha (e a UE) rejeitaram publicamente as novas medidas que afectam, nomeadamente, interesses económicos de Berlim. Mas não foi a Alemanha (e a UE) a impulsionar ao lado dos EUA as sanções à Rússia após o golpe de Estado de 2014 na Ucrânia? E a NATO não prossegue a expansão a Leste?

A 8 de Agosto, Trump ameaçou a RPDC com um «fogo e fúria» nunca vistos. Três dias antes, o CS da ONU aprovara um novo pacote de sanções em relação ao programa nuclear e balístico norte-coreano. Dia 21, os EUA iniciaram manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul. No dia seguinte os EUA anunciam sanções contra empresas da China e Rússia por alegado apoio ao programa militar de Pyongyang. A 24 de Agosto, bombardeiros estratégicos russos sobrevoaram o perímetro da península coreana. Washington insiste em obstaculizar os esforços de paz, rejeitando a proposta de Pequim e Moscovo de negociações políticas, que Berlim afirmou recentemente também apoiar.

Reagindo à inocultável derrota da agenda golpista da direita venezuelana resultante da instalação da Assembleia Constituinte, a 11 de Agosto Trump ameaçou com uma intervenção militar na Venezuela. A 25, os EUA impuseram mais sanções económicas ao país, reforçando a agenda de guerra económica e asfixia financeira da Venezuela. O governo bolivariano reagiu energicamente contra as novas ameaças que constituem uma grave violação da Carta da ONU.

Sem surpresa, os EUA anunciaram, dia 21, a revisão da estratégia para o Afeganistão, com o reforço da ocupação e intensificação de uma guerra que já leva 16 anos. O martírio para o povo afegão prosseguirá porque o país da Ásia Central é uma peça-chave da manobra profunda desestabilizadora dos EUA e da NATO dirigida contra a China, a OCX e o projecto da Nova Rota da Seda. Em que o Daesh, como reconheceu o ex-presidente afegão e ex-aliado dos EUA, Karzai, é mais um «empreiteiro» dos EUA. Cuja derrota na Síria, às mãos do exército e aliados de Damasco, representa um desaire do imperialismo que pode marcar um ponto de viragem na região. Por isso os EUA instalam 10 bases militares e bombardeiam civis em Raqqa...




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