Um monstro que está a crescer
Duas décadas bastaram, desde o início das privatizações na banca, para que hoje o País esteja confrontado com o núcleo duro das instituições bancárias a serem dominadas pelo capital estrangeiro. O último episódio ficou escrito com a aquisição por parte do grupo espanhol Santander do Banco Popular – pela simpática quantia de um euro – meses depois do mesmo grupo ter adquirido o Banif (cujo processo de «resolução bancária» custou mais de dois mil milhões de euros ao povo português). Recorde-se que o Santander já tinha engolido o Banco Comércio e Indústria, o Banco Totta e Açores e o Crédito Predial Português.
Foi um percurso repleto de uma intrincada teia de especulação financeira, fuga de capitais, promiscuidade com o poder político, destruição de postos de trabalho, negócios ruinosos, encerramento de agências, evasão fiscal, corrupção e outros tantos crimes contra os interesses nacionais e que teve como expoentes os casos do BPP, do BPN e, particularmente, o colapso do BES. Um trajecto da clara responsabilidade política do PS, PSD e CDS que nunca faltaram sempre que foi necessário transferir para as costas do povo português os custos da gestão privada da banca, cuja natureza especulativa não só não cessou como é apadrinhada pela UE e pelo BCE e a sua mais recente criação, a chamada União Bancária.
Entretanto, o Novo Banco (ex-BES) está prestes a ser entregue a um fundo abutre norte-americano e o badalado Montepio confronta-se com um futuro incerto. A continuar assim, em pouco tempo sobrará pouco mais do que a CGD, também ela cercada pelas imposições da UE. E do que se vai conhecendo, o monstruoso volume das ditas imparidades paira de forma ameaçadora sobre o povo português.
A dita «estabilização do sistema financeiro» de que o Governo fala é um atentado à inteligência. Portugal não está a resolver os problemas da banca mas a permitir a criação de um monstro que, a não ser travado, dominará com consequências imprevisíveis parte dos destinos do País.