Comunistas e católicos podem convergir e têm convergido
O PCP promoveu recentemente em Évora uma sessão subordinada ao tema «O PCP, os Católicos e a Igreja», na qual participaram Deolinda Machado, licenciada em teologia, activista da Liga Operária Católica e dirigente da CGTP-IN; Sérgio Branco, leigo da Ordem Dominicana e membro da Direcção do Sector Intelectual e da Direcção da Organização Regional de Coimbra do PCP, e ainda Carlos Gonçalves, da Comissão Política. A sessão ficou marcada pela profundidade das três intervenções iniciais e pelo vivo debate que se lhes seguiu, dada a sensibilidade do tema e o momento particular que então se vivia, a poucos dias da visita do Papa ao País.
Na sua intervenção, Carlos Gonçalves traçou o panorama de décadas de unidade entre comunistas e católicos e realçou que «para alargar o apoio social e político a uma alternativa, importa reafirmar que o PCP mantém a tese de que as convicções religiosas não alteram a posição de classe de cada um, nem implicam conflitos com um programa social e político progressista». Ou seja, precisou, «são os interesses dos trabalhadores e das camadas não monopolistas que conflituam com os barões do capital, sejam ou não crentes». Quanto à intervenção do Papa Francisco, que por vezes assume posições próximas da Teologia da Libertação, o dirigente do Partido relaciona-a com a urgência do Vatincano de «recuperar influência perdida, sobretudo na América Latina», mas também pela imposição de novas realidades que a Igreja não pode, de todo, ignorar.
Por seu lado, Deolinda Machado remeteu para Leonardo Boff, o fundador da Teologia da Libertação, para apelar precisamente à libertação humana: «Primeiro na mente. Depois na organização. Por fim na prática.» Partindo do exemplo da CGTP-IN, a sindicalista católica garantiu não existir qualquer incompatibilidade entre os valores evangélicos e a luta sindical, na medida em que há identidade nos princípios e valores defendidos: «O que é que Jesus Cristo faria hoje no mundo do trabalho? Será que ficava do lado dos mais ricos, dos corruptos, dos que fazem fortuna à custa dos mais pobres? Seguramente que não.»
Sérgio Dias Branco citou o teólogo brasileiro Frei Betto para encontrar semelhanças entre a prática do marxismo, entendido como «ferramenta de libertação dos povos oprimidos», e o pensamento social católico, em particular na Teologia da Libertação, lembrando que na história recente cristãos e comunistas se têm unido em diversos movimentos unitários em prol dos direitos laborais e cívicos e da paz. Activistas católicos têm participado de forma empenhada em movimentos como a CGTP-IN, o CPPC e outros, lado a lado com comunistas e muitos outros, sem filiação partidária.