Defender o aparelho produtivo

Vladimiro Vale

No âmbito da campanha Produção, Emprego, Soberania – Libertar Portugal da Submissão ao Euro, delegações da DORC do PCP, com Miguel Viegas, deputado do PCP no Parlamento Europeu, visitaram duas importantes empresas: a CIMPOR, em Souselas/Coimbra, e os Estaleiros Navais do Mondego – actual Atlantic Eagle Shipbuilding – na Figueira da Foz.

 

A adesão à UE prejudicou os sectores produtivos do País

As visitas e reuniões inseriram-se no trabalho regular do PCP de contacto com empresas e trabalhadores, tendo como objectivo conhecer para melhor defender o aparelho produtivo nacional, valorizar os trabalhadores e o mercado interno como alavancas fundamentais do crescimento económico, denunciando que Portugal se encontra ainda numa situação social e económica de grande fragilidade, situação essa que decorre, em grande parte, dos constrangimentos impostos pela União Europeia, pela dívida insustentável e pela submissão ao euro.
Uma delegação esteve reunida com a administração da CIMPOR, empresa cuja nova estrutura accionista está sob controlo de um grupo estrangeiro, o que suscita preocupações, e que está a braços com uma conjuntura de crise da construção civil, produzindo muito abaixo da capacidade máxima e sobretudo para o mercado externo. A falta de medidas de valorização da indústria ao nível da energia e combustíveis, que representam quase 40 por cento dos custos de produção, coloca esta unidade em desvantagem competitiva relativamente a outras fábricas de outros países da União Europeia.

Alterações recentes ao Sistema de Comércio de Emissões na Europa (sistema que já provou a incapacidade de reduzir as emissões de Gases com Efeito de Estufa) podem vir a colocar novos entraves à exportação. A delegação do PCP reuniu com a subcomissão de trabalhadores da empresa, ficando a conhecer melhor o caderno reivindicativo, que procura recuperar rendimentos e direitos perdidos ao longo dos últimos anos.

O facto de grande parte das funções inerentes ao processo produtivo ser realizada por empresas externas traz grandes preocupações, na medida em que já são mais os trabalhadores de empresas externas a realizar trabalhos permanentes na empresa do que os trabalhadores do quadro da CIMPOR, o que precariza as relações laborais e serve de pressão no sentido da redução de direitos.

Apoiar a economia

Nos Estaleiros Navais do Mondego, na Figueira da Foz, a delegação do PCP pôde mais uma vez reafirmar que a construção naval representa um sector fundamental para a economia portuguesa que deveria ser valorizado e defendido. Infelizmente, a entrada de Portugal na UE foi dramática para este sector, cuja sobrevivência está ameaçada por falta de políticas específicas de apoio. A dificuldade em obter garantias bancárias para o financiamento representa hoje para os estaleiros uma questão central, que é decisiva para poder continuar a sua actividade e alargar a sua carteira de encomendas. Apesar de a propaganda do famigerado Plano Juncker afirmar estar a libertar verbas para apoio à economia, o que é certo é que empresas como os ENM não conseguem aceder a esses financiamentos.

A delegação reafirmou que o PCP tem vindo a intervir, seja ao nível local seja a nível nacional e no Parlamento Europeu, no sentido de alertar para os problemas desta unidade de construção naval, reafirmou o compromisso de continuar a exigir políticas de defesa do aparelho produtivo nacional, a par com uma política de valorização do trabalho.

Como ficou patente nas visitas, não é possível desenvolver o aparelho produtivo sem a implementação de uma política patriótica e de esquerda que garanta o controlo público sobre sectores fundamentais como a energia e a banca, colocando-os ao serviço do desenvolvimento do País. Como o CC do PCP afirmou, «do que o País precisa é de uma política que assegure o investimento, o aumento da produção nacional e a criação de emprego, objectivos indissociáveis da necessidade da libertação da submissão ao euro, da renegociação da divida e do controlo público da banca, bem como de uma política externa independente e soberana baseada na cooperação e na paz».

 



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