Esta luta existiu!

Margarida Botelho

Greve na Ma­tu­tano, na Casa da Moeda e na Tesco. Ple­ná­rios com os barcos pa­rados na Trans­tejo e na So­flusa. Os con­tra­tados da ma­nu­tenção da Pe­trogal con­cen­trados à porta da em­presa. Mais de 1500 pes­soas numa marcha do centro de saúde da Baixa da Ba­nheira ao Hos­pital do Bar­reiro, em de­fesa do SNS. Este não é um le­van­ta­mento exaus­tivo: é só o que vê quem fo­lheia o Avante! da se­mana pas­sada. É a prova de que quem não lê o Avante! não está bem in­for­mado, porque foram no­tí­cias a que só ele deu des­taque.

Vem esta re­fe­rência a pro­pó­sito da ma­ni­fes­tação de mu­lheres con­vo­cada pelo MDM no sá­bado pas­sado. Foi uma ma­ni­fes­tação his­tó­rica, iné­dita no plano na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal, com mais de 20 mil par­ti­ci­pantes de todo o País em luta pela igual­dade, o de­sen­vol­vi­mento e a paz.

Uma ma­ni­fes­tação si­len­ciada e des­va­lo­ri­zada pela co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante antes, du­rante e de­pois. A mar­cação da acção por parte do Con­selho Na­ci­onal do MDM e as di­versas ini­ci­a­tivas pre­pa­ra­tó­rias foram pra­ti­ca­mente ig­no­radas. No pró­prio dia e nos dias an­te­ri­ores à ma­ni­fes­tação não houve as cha­madas «an­te­ci­pa­ções». Nos no­ti­ciá­rios do ho­rário nobre a ma­ni­fes­tação foi ig­no­rada numa das es­ta­ções e re­me­tida para o final do ali­nha­mento nas ou­tras duas. Ao con­trário do que é há­bito não houve re­pe­ti­ções das re­por­ta­gens no dia se­guinte e os dois únicos jor­nais de do­mingo que re­fe­riram a ma­ni­fes­tação fi­zeram-no em pouco mais de três li­nhas.

Claro que a vida e a luta acon­tecem mesmo quando a te­le­visão não mostra. Claro que uma ma­ni­fes­tação com estas ca­rac­te­rís­ticas vale por si e que a marca que deixa em quem nela par­ti­cipa fi­cará para sempre. Mas os cri­té­rios jor­na­lís­ticos têm re­gras que pre­tendem cons­truir e de­fender a ob­jec­ti­vi­dade. Ig­norar a luta que os tra­ba­lha­dores e o povo por­tu­guês travam para dar razão à nar­ra­tiva de que em Por­tugal não se luta é, além de uma grande men­tira, um pés­simo ser­viço ao pres­tígio do jor­na­lismo.




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