Esta luta existiu!
Greve na Matutano, na Casa da Moeda e na Tesco. Plenários com os barcos parados na Transtejo e na Soflusa. Os contratados da manutenção da Petrogal concentrados à porta da empresa. Mais de 1500 pessoas numa marcha do centro de saúde da Baixa da Banheira ao Hospital do Barreiro, em defesa do SNS. Este não é um levantamento exaustivo: é só o que vê quem folheia o Avante! da semana passada. É a prova de que quem não lê o Avante! não está bem informado, porque foram notícias a que só ele deu destaque.
Vem esta referência a propósito da manifestação de mulheres convocada pelo MDM no sábado passado. Foi uma manifestação histórica, inédita no plano nacional e internacional, com mais de 20 mil participantes de todo o País em luta pela igualdade, o desenvolvimento e a paz.
Uma manifestação silenciada e desvalorizada pela comunicação social dominante antes, durante e depois. A marcação da acção por parte do Conselho Nacional do MDM e as diversas iniciativas preparatórias foram praticamente ignoradas. No próprio dia e nos dias anteriores à manifestação não houve as chamadas «antecipações». Nos noticiários do horário nobre a manifestação foi ignorada numa das estações e remetida para o final do alinhamento nas outras duas. Ao contrário do que é hábito não houve repetições das reportagens no dia seguinte e os dois únicos jornais de domingo que referiram a manifestação fizeram-no em pouco mais de três linhas.
Claro que a vida e a luta acontecem mesmo quando a televisão não mostra. Claro que uma manifestação com estas características vale por si e que a marca que deixa em quem nela participa ficará para sempre. Mas os critérios jornalísticos têm regras que pretendem construir e defender a objectividade. Ignorar a luta que os trabalhadores e o povo português travam para dar razão à narrativa de que em Portugal não se luta é, além de uma grande mentira, um péssimo serviço ao prestígio do jornalismo.